sábado, 21 de março de 2009

De excomungador a excomungado

Observatório Romano - Jornal Oficial do Vaticano

O Vaticano rompeu o silêncio sobre a polêmica causada pelo aborto realizado em uma menina de 9 anos no Recife, que esperava gêmeos após ser estuprada pelo padrasto desde os 6 anos de idade.

Em artigo publicado pelo jornal vaticano L'Osservatore Romano (14, Março) e assinado pelo presidente da Pontifícia Academia para a Vida, monsenhor Salvatore Rino Fisichella, a Igreja Católica retrocede e diz que - no caso da menina de 9 anos, "antes de pensar em excomunhões seria necessário e urgente salvaguardar sua vida inocente, devolvendo a ela um nível de humanidade".

É que o Arcebispo de Recife e Olinda, O excomungador, optou por expulsar a mãe da menina, os médicos e integrantes de ONGs envolvidas no aborto. Após a repercussão da punição, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) já havia afirmado que não houve excomunhão, desautorizando assim o arcebispo de Recife.

"São outros que merecem a excomunhão e nosso perdão, não os que lhe permitiram viver e a ajudarão a recuperar a esperança e a confiança, apesar da presença do mal e da maldade de muitos", escreve Fisichella, um dos mais próximos colaboradores de Bento 16 e maior autoridade do Vaticano em bioética.

"A terrível história da violência cotidiana" da qual a menina foi vitima, sofrendo abusos frequentes por parte de seu padrasto, "teria passado despercebida com a intervenção do bispo", observa o presidente da Pontifícia Academia para a Vida em seu artigo.

Segundo a agência de notícias Ansa, para o representante do Vaticano, a menina brasileira "deveria ter sido defendida antes de tudo", mas "não foi feito isto, lamentavelmente, prejudicando a credibilidade de nossas instruções que, para muitos, parecem marcadas por insensibilidade, incompreensão e falta de misericórdia".

A criança, admite o prelado no artigo, "levava dentro de si outras vidas, tão inocentes quanto a sua, embora frutos da violência, e que foram suprimidas, mas isso não era suficiente para fazer um julgamento que pesa como um machado".

O caso da menina correu o mundo e ganhou destaque na mídia internacional, em meio a protestos contra a decisão de Dom José. A repercussão se tornou ainda maior pela postura da Igreja Católica em um Estado laico, interferindo diretamente nas decisões judiciais, e porque o padrasto, acusado de violentar a menina de 9 anos e sua irmã, de 14, não foi excomungado.

Ainda conforme a Ansa, no fim de semana passado, comunidades eclesiais de base italianas afirmaram que a decisão do arcebispo brasileiro demonstram, "mais uma vez, o sentido de distanciamento radical entre a "Igreja do Poder" e os dramas humanos".

Em uma nota emitida na ocasião, as comunidades também criticaram o Vaticano por sua postura autocrática, afirmando que a Santa Sé teria apoiado a postura de Dom Sobrinho.

A mim, resta dizer que a Igreja apenas adequou-se a opinião pública por entender que a postura inicial veio na contramão. Quero dizer também que apesar de considerar o arcebispo um sujeito reacionário, devo admitir que admiro a sua coragem: insurgir-se contra a grande mídia não é fácil, mesmo quando se tem convicção sobre o que faz.

Contudo, só uma perguntinha simples aos mais ardorosos católicos: e agora, mudaram também de ideia? Ou irão cometer o pecado da desobediência à Santa Sé? Cuidado para não serem excomungados!

2 comentários:

  1. Que contradição né, apesar de ser Católica fiquei desanimada com a minha igreja de saber que em uma situação tão grave contra uma criança, foi tomada uma atitude tão repugnante , e agora volta atrás por pressão da mídia,pq antes de se voltar contra o aborto nesse caso , não foi feita uma campanha para que isso diminua?
    quantas coisas em melhorar !

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  2. Da poltrona diz:

    Oxente, os católicos se calaram? Pense numa cambada de frouxos!

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