domingo, 25 de setembro de 2011

Muito óleo sobre tela pro meu gosto

                                 por Marcelo De Marco

Sabiás cantam pela manhã inteira de sol

Um exército de ondas
embola-se na superfície do mar
bramindo natureza pura

O céu é de Deus
e não há dúvida de que ele seja tupinambá,
e aí troveja em Quixadá e
no Oceano percebe-se

Enquanto isso, as águas tentam afogar Moema
como os carros de Faraó
com o gosto do desgosto
da união de Paraguaçu com Caramuru
nos decassílabos egípcios de Durão

No firmamento, relâmpagos fazem
espirais de aço

Fé tupiniquim ateia fogo no mato

A chuva come terra molhada

Para não ficarem atrás
turistas portugueses devoram índias intatas

O Senhor acende sensuais raios no céu
e funda a primeira hidrelétrica no Brasil
 
O amor é para sempre?

In: Guardados na gaveta
poema de 1998

sábado, 24 de setembro de 2011

Água-viva

                                             por Marcelo De Marco

Por enquanto, não sou de nada.
- Mas me provoca!

Inventa qualquer coisa no cume desta montanha russa

Faz carrossel nesta torre confusa da fortaleza de Sebastopol


Brinca em tua tirolesa
                                        escorrega
                                                            atira-te
balança:
                 vem
          iav

Inebria-te com a saliva na língua
pêra, uva, maçã, salada ígnea... croissant

Tenta, assanha, inflama
o rubro pólo dessa pilha de nervos
e aí, então, em segredo
deixa-me o cetro apontar
para fazer-te rainha pelas paredes
no zunzum dos nossos dominós
que, de tão encaixados
se pareçam com abelhas fabricando mel na azeitona.

In: Poesia play
poema de 1998

domingo, 18 de setembro de 2011

Camisa de força

                                   por Marcelo De Marco

Eu aqui
             e você
                          ali.

E nenhum olhar fixo.


Nem mesmo um abraço,
ainda que superficial!

Qualquer gesto fraterno
                                     de despertar conjeturas?

- Nem pensar!

Que dirá um beijar recíproco!

                                                    Você lá, na sua
 eu cá, na minha

nós dois
juntos
numa desumana indiferença.

In: Guardados na gaveta
poema de 1997

Quase

                                          por Marcelo De Marco

Um pouco mais de mim
e você se mostrava por completa,
quem você é,
                        o que pensa,
                                               o que quer.

Mais um detalhe
e você estaria na minha expansão
assombrando o meu descanso
de humano falível
que depois de tantas noites
almeja descansar em seus carinhos.

Mas fazer o quê
se a minha alma retira de mim
esta indiscutível capacidade de amar?

In: Guardados na gaveta
poema de 1997

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

"Lar", da 'artista plástica' Maria Vitória


Minha filha, 4 anos, tem o hábito de me presentear com desenhos - que prometo publicar, a partir de agora, aqui neste espaço. Hoje, sob encomenda, fez com giz de cera e grafite "Lar".

Cometerei a presunção de achar que ela é capaz de captar a essência.

Essa menina leva jeito!

Ana Flor

por Marcelo De Marco

E como em mágica a(manhã):
                            floresce
                                                       creeeeesce


alucinógena-rósea-azul-lilás.


Uma coisa assim seria tóxica
não fosse pólen, lírio-lítio-essência: paz!


E a flor incólume
nem descolore, nem rasga e cessa jamais


Não é mesmo artifício...
esta flor Rosa
de pétala inóxida
                                ante o ceticimo assaz?

Quem disse?!

A flor é Ana,
                              amo-a!

in: Guardados na gaveta
poema de 1997

Palavras cruzadas

por Marcelo De Marco

Procuro não sei o quê...

verei se acho:
 
                            s
                            e
                            t
                            e     p            
                            n     i     g          
                            i     n        o      a
                            f     g            t        s
                            l     o
                            a    s                      
 
perdidos a evaporar-se... átomos na escuridão

E como satélite inútil no espaço
faço aeróbica e abro com(passo)
de palavras em
                                 m             ra
                                      a      b           R A D I C A L
                                        no
 
que sobre skate mergulham no ar
                                    
                                    S           im-
                                    E
                                    T                pul-     
                                   
                                    U                      si-
                                    G
                                    O               o-
                                    F
                                             nan-
                                   do
                                                       

  Onde quer chegar essa poesia
 
V
E
R
T
I
C
A
L

Quer porventura
 
                               transar com a linha de um poema
 
              
H O R I Z O N T A L ? !

in: Poesia-play
poema de 2002

sábado, 3 de setembro de 2011

Severina

Assisti no último dia 31/08, na Secretaria de Educação do Estado, à mesa redonda com Miguel Falcão. Tratou-se de animação a partir dos quadrinhos criados pelo cartunista - numa transposição de linguagem de Morte e Vida Severina, do também pernambucano João Cabral. O belo projeto faz parte da grade de programação da TV Escola.

Em pouco menos de 55 minutos, a animação dá vida ao texto original – sem nenhuma alteração – de João Cabral de Melo Neto, em desenhos feitos a bico de pena. Com o uso de tecnologia 3D (três dimensões), a animação é resultado de uma parceria com a Fundação Joaquim Nabuco. O custo... menos de 1/2 milhão de Reais. Bagatela, quando conferimos do trabalho.

Escrito entre 1954 e 55, o poema, considerado um marco na literatura nacional, narra a trajetória de um migrante nordestino até a cidade de Recife, ainda hoje a mais próspera da região. Com fortes elementos de crítica social, o texto já foi tema de teatro, música, filme, seriado de TV, de história em quadrinhos (leia-se Miguel), e agora, animação.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Terry Eagleaton na cabeceira


Impressionado com a forma palatável e didática de Terry Eagleton. Teoria Literária - uma introdução se trata de manual imprescindível a todos que amam a boa Literatura.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

É osso


Estou num vale de ossos secos - diante dos quadros herméticos de Avalovara. Aqui, então, ponho-me a amealhar repertório a fim de acessar a obra desse mestre da literatura experimental.

Juro degustar a carne!