sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Que língua é essa?!

Foto: Divulgação

Como já foi amplamente noticiado pela imprensa, acaba de entrar em vigor o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado pelos países que têm o português como língua oficial. Não se trata, como se pode imaginar, de uma grande reforma ortográfica. Justamente por isso, abrangerá apenas algumas palavras (cerca de 0,45% do vocabulário no Brasil e 1,6% em Portugal), que passarão a ter a mesma grafia tanto em nosso país como em outros que já assinaram o Novo Acordo.

Esse acordo, no entanto, é meramente ortográfico; portanto, restringe-se apenas à língua escrita, não comprometendo nenhum aspecto da língua falada.

Com essa unificação de grafias, espera-se que o português – hoje falado por aproximadamente 230 milhões de pessoas em todo o mundo e língua oficial de trabalho em mais de uma dúzia de organizações mundiais – ganhe ainda mais importância nos fóruns internacionais e tenha o seu uso facilitado por editoras e instituições de vários continentes. Sabe como é!... em tempos de globalização, não tenhamos dúvidas: é mais mercantilismo do que qualquer outra coisa.

O Novo Acordo, além de mudar algumas regras para o hífen, que serão mais claras, e abolir o trema (a meu ver, de forma equivocada), volta a incorporar, ao alfabeto português, as letras K, W e Y, até então consideradas estrangeiras. O acento diferencial também foi suprimido na maioria das palavras homógrafas – coisinha também indigesta.

O curioso é que certas palavras proparoxítonas terão como válida uma dupla grafia, a exemplo de econômico e económico, conforme queira se pronunciar da forma brasileira ou da lusitana. Também caem alguns acentos, como o das palavras vôo (agora voo) e estréia (estreia).

Diante de tais novidades, é normal que se leve um período para incorporá-las à rotina. Também convém imaginar que ainda são escassas as publicações (gramáticas e dicionários) de referência completamente atualizadas com as novas regras. É preciso dar tempo para que essa transição flua naturalmente.


MUDANÇAS MAIS SIGNIFICATIVAS:

+
Quando o segundo elemento começa por H, usa-se hífen: anti-higiênico, co-herdeiro, neo-helênico, super-homem. (Não se usa, no entanto, o hífen em formações que contêm os prefixos DES e IN nas quais o segundo elemento perdeu o H inicial: desumano, inábil).
+ O hífen não é mais usado em palavras formadas de prefixo ou falso prefixo terminado em vogal e seguido de palavra iniciada por R ou S. Com o acordo, as palavras formadas dessa maneira são grafadas sem hífen, sendo essas consoantes dobradas: antessala, autorretrato, antissocial, contrassenso, ultrassonografia, suprarrenal.
+ O hífen também não é mais usado em palavras formadas de prefixo ou falso prefixo terminado em vogal e acompanhado de palavra iniciada por vogal diferente, o que uniformiza várias exceções antes existentes. Deve-se grafar, portanto: antiaéreo, antiamericano, autoajuda, infraestrutura, neoimpressionista.
+ Uma dúvida muito comum era a divisão silábica na translineação de uma palavra composta ou de uma combinação de palavras em que havia um hífen ou mais, se a partição coincidisse com o final de um dos elementos ou membros. Pronto. Agora acabou! Pede-se que, por clareza gráfica, repita-se o hífen no início da linha imediata.
+ Acentuação dos verbos com QU e GU no radical vão para o espaço. Assim, além de perderem o trema, os verbos ARGUIR e REDARGUIR e suas flexões não mais receberão acento agudo, embora mantenham a tonicidade no U.

A decorar regras, é muito mais negócio lamber, mastigar, deglutir... refestelar-se na poesia de Cida Pedrosa:

Contrarregras

tremo viver sem trema
comer linguiça não terá o mesmo gostinho
vou demorar a urdir ideias
a dormir tranquila

(arrepiam-se-me os pelos pelos pinguins)

sem tirar nem por

acho uma feiura
voo sem acento
sinto enjoo

(morderam-nos a língua e cuspiram em cima)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Amarelo sofre 1ª derrota no "tapetão"

Foto: Divulgação

O juiz Breno Duarte Ribeiro de Oliveira, da comarca de Vitória de Santo Antão, acaba de expedir liminar determinando a readmissão dos 6 procuradores (advogado) que o prefeito Elias Lira, do DEM, havia exonerado.
Segundo o democrata, a medida se deu porque alguns dos efetivados haviam apresentado documentação incompleta. Outra irregularidade apontada foi o número exorbitante de convocados fora das vagas assinaladas em edital.
Os candidatos, por sua vez, reclamam por transparência no processo e informam que apesar de terem sido classificados fora das vagas, elas existem.
A briga ainda terá, pelo que parece, vários "rounds", e um deles - decisivo - certamente irá parar no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).
Na terça feira (27), o prefeito Elias Alves de Lira havia publicado notificação no DO. Segue, abaixo, a lista de demitidos com a respectiva colocação:

ADVOGADO
Havia 6 vagas, foram convocados 16
06º - ANA CLÁUDIA DANTAS SENA
08º - WASHINGTON LUIZ MACEDO DE AMORIM
10º - ÊNIO RICARDO CORDEIRO LACERDA
13º - ANDRÉ LINS E SILVA PIRES
15º - ANDRÉA CRISTINA PORTELA GOUVEIA MANCO
16º - MANUELA VASCONCELOS DE ANDRADE

AUDITOR FISCAL
Havia 4 vagas, foram convocados 15
08º - EDYANE CAMPOS DE MELO
10º - GEORGIA CARLA OLIVEIRA DA SILVA
13º - BRUNO SIMÕES DE MIRANDA SOARES
15º - CARLA PATRICIA DE SÁ CAVALCANTI QUERÁLVARES

FISCAL DE TRIBUTOS
Havia 10 vagas, foram convocados 20
14º - CELIA MARIA DA CRUZ
15º - JAIME DE LIMA GOMES SOBRINHO
16º - ANDREA MAELLY BELO DA SILVA MELO
18º - EDUARDO DA SILVA OLIVEIRA
20º - MARIA JOSÉ DA CONCEIÇÃO SILVA

PROFESSOR "A"
Havia 50 vagas, foram convocados 75
59º - JOSEFA MARIA DE MOURA SILVA
60º - JOELMA MARIA RAIMUNDO FARIAS
61º - ANA LÚCIA BEZERRA DE AMORIM
62º - UBERLANDIA MAYRA DA SILVA
64º - MARINALVA CONCEIÇÃO DE VERAS
66º - AURELÚCIA VALÉRIA DE SANTANA MELO
67º - ELLEN KARLA DOS SANTOS LIMA
68º - ROSITA DO CARMO ALVES DAS NEVES
70º - ANA PAULA BERNARDO DA SILVA
72º - JOSILENE NASCIMENTO DA CONCEIÇÃO
73º - KELLY CRISTINA DE MIRANDA SOUZA
74º - GLADSTONE BARBOSA SOARES
75º - MARIA MARQUELANGE CHALEGRE DA SILVA

PEDAGOGO
Havia 3 vagas, foram convocados 9
08º - SORAYA SANTOS DE LIMA FRAGOSO
09º - JOSENALVA FRANCO FREIRE DA SILVA

PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Havia 9 vagas, foram convocados 23
12º - ALEXANDRE DA SILVA DE ARRUDA
13º - RENATO BARBOSA DE SOUZA JÚNIOR
14º - MURILO CESAR DE ALBUQUERQUE
15º - MARCELO BARBOSA DA SILVA
16º - ANA CARLA ANDRADE DE SALES DUTRA
17º - RICARDO ANDRÉ DE SOUZA XAVIER
20º - LIDIANE PEREIRA DOS SANTOS
23º - LEDYANNE GERTRUDES MENDONÇA MORAIS

PROFESSOR DE GEOGRAFIA
Havia 4 vagas, foram convocados 19
07º - VERONICA DE OLIVEIRA LIMA
09º - BETANIA CRISTINA SANTOS DE LIMA
10º - HUDSON BARRETO DA SILVA
11º - ROMILDO JORGE DOS SANTOS
12º - ANTONIELLE LOPES MACEDO COSTA
13º - EDUARDO JOSÉ NEVES CABRAL
14º - ANA PAULA DA SILVA FREITAS
15º - EULER FIGUEIROA BORGES JÚNIOR
18º - JOSÉ FERNANDO LIMA DO NASCIMENTO
19º - FÁDIA CASSANDRA DE MELO LIRA

PROFESSOR DE INGLÊS
Havia 5 vagas, foram convocados 26
10º - HERONITA MARIA DANTAS DE MELO
11º - LILIANE TEIXEIRA DA LUZ VEIGA
12º - ADRIANA LINS DA SILVA
14º - SEVERINO JOSÉ DE ASSIS
15º - SANDRA ELIZABETH PEDROSA DE OLIVEIRA
17º - TÁSSYA KELLY DA CUNHA LORENA
18º - BEATRIZ CÁSSIA DA SILVA
20º - ANA MARIA ANDRADE VIANA
22º - RAMAYANA TEIXEIRA LEITE SILVA
24º - ROSÂNGELA MARIA DA SILVA
25º - GEMILSON DE FREITAS MESQUITA
26º - MARCONI SANDRES DOS SANTOS

PROFESSOR DE QUÍMICA
Havia 2 vagas, foram convocados 6
05º - MARCOS TADEU LOURENÇO DA SILVA
06º - LISANDRA TAÍS SILVA DE LIMA

PSICÓLOGO
Havia 8 vagas, foram convocados 12
12º - LUCIANA VIEIRA FELICIANO DA SILVA

SANITARISTA
Havia 3 vagas, foram convocados 5
4º - ADRIANA SIQUEIRA QUERÁLVARES COELHO
5º - GEORGIA CYBELLE DA SILVA

domingo, 25 de janeiro de 2009

Crônica de uma morte trágica

Foto: Otavio Bastos/Divulgação

Mariana Bridi da Costa; 20 anos; modelo; 57 quilos uniformemente distribuídos em 1,75 de altura; olhar estonteante; capixaba, iniciou a carreira aos 14 anos; 4º lugar no concurso Miss Mundo Brasil (2007 e 2008); escolhido o 4º rosto mais bonito do mundo no Face of the Universe; lliiiiiiiinda de morrer, literalmente!

Dia 3 de janeiro foi socorrida e, imediatamente, internada.

Uma “simples” infecção urinária foi o foco de uma bactéria, a Pseudomonas aeruginosa, que a levou a respirar por aparelhos e a fazer hemodiálise.

A PSEUDO, como irei chamá-la agora, evoluiu para sepse grave, ou seja, infecção generalizada; por essa razão, o fluxo sanguíneo foi impedido de irrigar as extremidades, que necrosaram.

Pés e mãos, amputados.

Na madrugada deste sábado, por volta das 2h30, no Hospital Estadual Dório Silva, na cidade de Serra (ES), falece – de acordo com informações da assessoria do governo do Espírito Santo – em decorrência de complicações de uma infecção generalizada gravíssima, agravada por uma hemorragia abdominal, o que gerou a falência múltipla dos órgãos.

Seu sofrimento foi cessado. Mas continuamos – todos – a padecer por tal fim trágico, que aniquilou seu sorriso e encerrou seus planos de se casar, ter filhos, seguir a carreira de modelo e ser feliz.

De acordo com nota da assessoria da modelo, Mariana – menina pobre da Marechal Floriano – cidade do interior do ES, veio para Vitória (capital do ES) com a finalidade de se firmar na carreira de modelo e poder dar uma vida digna aos seus pais. Mari, como sempre foi carinhosamente chamada, era a única esperança de um futuro melhor para eles.

Seu pai, motorista; sua mãe, servente. Nesses 20 dias de sofrimento intenso, licenciaram-se de seus serviços para acompanhar o drama vivido pela filha. Ficaram hospedados em Vitória, na casa de pessoas que se disponibilizaram a ajudar, sem mesmo conhecê-los.

Ainda, conforme a nota, para piorar a situação, logo na primeira semana em que Mari ficou internada, houve um temporal no estado do Espírito Santo e a cidade de Marechal Floriano ficou completamente debaixo d'água, atingindo centenas de famílias, inclusive a família da modelo.

Por essa razão, é que eu – ainda que de forma modesta – amplifico o apoio e endosso dois apelos contidos na nota: 1º) doe sangue!, continue doando, pois nos hospitais em todo Brasil e no mundo sempre existirão aqueles que necessitam; e 2º) associe-se à campanha de ajuda aos pais de Mari – porque este era entre tantos – um sonho dela.

Portanto, se você puder realmente ajudá-los, entre em contato pelo endereço eletrônico que segue: contato@marianabridi.com.br; Visite o site: www.marianabridi.com.br
.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Um convite à leitura de poesia

Merchandising nas nuvens

Queria poder construir um poema-
r
i
s
c
o
desses que se q-u-e-b-r-a-m na boca
Queria fazer uma poesia
meio louca,
do-jei-ti-nho que-tu-gos-tas:
TENSA, à flor psicodélica
pulando a pára-quedas
em rota de colisão
Queria juntar palavras assim...
bem ao teu jeito aulido
para conquistar-te
mas sobretudo, para fazer a arte
de flutuar palavras
que com fragrância esparsa
cheguem às narinas agudas de Deus,
e um de seus mais respeitados anjos
e também ministro
– o então grandíloquo BANDEIRA
saia orgulhosamente comentando:
– É safra nova! É conterrâneo meu!
In: Caramelo cor palavra
Poema de 2003

Carlos Pena Filho, Carlos Drummond, Cecília Meireles, João Cabral, César Leal, Alberto da Cunha Melo, Mário Quintana, Lêdo Ivo, Adélia Prado, Marcus Accioly, Fabrício Carpinejar, Pedro Américo de Farias, Cida Pedrosa, Miró..., ufa! São tantos bons poetas paridos por essa puta-mãe-nação-gentil. Mas confesso: para mim, é de BANDEIRA o mastro mais alto.

A leveza de sua poesia, que alia sofisticação e inventividade - mesclados de cotidiano, me seduziu para sempre. Merchandising nas nuvens, é portanto, uma homenagem - singela - que faço a ELE e a minha impáfia de aspirante a poeta (– caviloso!, como diria meu avô)!

Que os textos do pernambucaníssimo Bandeira continuem a acordar leitores adormecidos! Que a genialidade desse GRANDE POETA destrave mentes entorpecidas de ignorância e insensibilidade poética! Que façam-se, à luz de sua poesia, leitores teimosos e inconformados! Que o inconformismo sirva à mudança de hábitos!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

LADO B - Para que servem eleitores?

Foto: Política Vitoriense

Tenho acompanhado, atento, as ações e os decretos municipais – as Medidas Provisórias (MPs) do Excelentíssimo Prefeito Elias Alves de Lira (foto). E, como não sou jornalista – como tantos aí o são – talvez nem devesse meter o bedelho nisso, mas a minha alma irrequieta de cidadão quite com as obrigações quis achocalhar o sistema e a calmaria das águas.

Vamos, objetivamente, às medidas mais polêmicas:

1º) O decreto nº 003/2009, que dispõe tornar sem efeito as admissões, posses e demais ato subseqüentes dos servidores cuja classificação se deu fora do número de vagas expressamente estabelecidas pelo edital, ao cargo pretendido, bem como dos candidatos empossados que não cumpriram as exigências estabelecidas no edital do Concurso Público nº 01/2006;
e,
2º) O decreto nº 007/2009, que dispõe sobre revogação de gratificação e representação de servidor público e dá outras providências, considerando a necessidade da redução com despesa de pessoal, para cumprimento da Lei nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal).

Devo antecipar, aos que ainda não sabem, que não foi dele o meu voto. Mas, o que dizer dessas ações? Estão corretas! O GOVERNO ELIAS está coberto de razão. Ele não pode – apenas para ser bonzinho – abrigar toda essa gente. Gente essa, sabemos todos nós, que fora convocada não por benevolência da administração anterior, que queria mesmo era assistir, de camarote, ao primeiro imbróglio.

Todos sabem que gratificações eram concedidas – sem o menor critério. E sempre foi assim: apenas pela cara, exclusivamente pela cor do partido, pela veemência da bajulação. Nunca se preocuparam em redigir um estatuto do servidor próprio para definir, com seriedade, sobre cargos e carreiras – excetuando aí o caso dos professores (um PCC, a meu ver, passível ainda de aperfeiçoamentos e correções).

No entanto, isto, senhores, vem de longa data. Não é ‘privilégio’ exclusivo da administração Querálvares. Ou alguém é doido esquecido e desmemoriado a ponto de não se lembrar que Aglaílson/Demétrius deu apenas continuidade à herança funesta dos seus mais aproximados antecessores? (leia-se: Ivo Queiroz Costa, Pedro Queiroz, Elias Lira e Carlos Breckenfeld).

Do que nós devemos reclamar mesmo é da falta de transparência nas ações de interesse público. É de um poder legislativo que tem sido – historicamente, joystick do executivo municipal. Portanto, senhores, devemos mesmo é espernear pelo fato de o atual governo fazer da prefeitura uma agência de empregos, exclusiva para seus apadrinhados eleitores.

Todavia, concluo que isso é pedir demais.

E conformados..., alguns ainda dirão: – mas, e o outro também não fazia?! Bem, mas quem se elegeu dizendo que seria o diferente e faria a diferença não pode se distinguir apenas pela cor da nova fachada da prefeitura, pela pintura e slogan novos nos carros. Tem que parar de cercar-se de asseclas (pois, trocaram apenas os nomes), deve dar exemplo e banir a tão censurada, em campanha, prática do NEPOTISMO.

Se este governo for sério mesmo, senhores, como todos desejamos que ele venha a ser, que – em constatando depois a necessidade de contratação de pessoal – abra edital e convoque novo concurso. E se um concurso permanente não se fizer necessário, que se abra uma seleção simplificada – levando-se em conta apenas critérios técnicos. Mas que abandone de vez essa mania paternal de ficar dando guarida, com o meu e o vosso dinheiro, a alguns dos mais novos e recém chegados VAGABUNDOS!

LADO A - Para que servem as flores?

Foto: Marcelo De Marco

Senhores! Venho aqui – agora – solidarizar-me e emprestar palavras: a vida não tem sido fácil. Mas quero dizer que, apesar do clima agreste, ainda reside beleza nas cores e o pouco orvalho que cai sobre o campo haverá, com o tempo, de dar brilho às flores – que insossas e desbotadas – passeiam mudas, tristes, arrependidas pelos cantos à procura de migalhas, em busca de um sereno noturno que as pegue. Coitadas!

É que as educaram assim. O antigo ‘dono’ – jardineiro descuidado – aguou-as, pôs húmus, mas não podou os ramos, não desbastou os galhos. Preocupava-se apenas em dizer que tinha um jardim. Jardim de flores vira-latas, flores sem perfume! E quase sempre é assim. Até que vem outro, observa o espaço cultivado e as arranca para dar lugar a plantas, igualmente cães e inodoras, que ele orgulhoso dirá: – fui eu quem plantou!

E entre desplantes, os restos de ramos das tais flores vão fincando os pés nas trincas do meio-fio – fazendo diagramas no chão a todo custo: traçados mirabolantes, arrebentando as calçadas construídas a tanto custo de suor, sol e umidade.

(Plantas moribundas! Não tens o que fazer?)

Mas aí, já época de colheita, o novo jardineiro – agora florista – para ornar sua floresta emprega até papoula, taioba, bananeira, enxertes de erva daninha e capim. Com eles enfeita as salas e as casas, paços e galerias oficiais da cidade. Decora gabinetes e repartições. Transforma-se artista em cultivar raízes, caules, folhas, flores (mesmo as mais definhadas!), pássaros, ovos, tudo. Tudo ele aproveita com afeição e idolatria. É um amor!

Mais tarde, quando terminada a exibição, não restarão bonsais, amostras de lírios, tampouco exemplares do orquidário. Recolher-se-á até moldura de quadro com esboço de planta. Na floricultura não haverá mais nada, nem um vaso molhado para nutrir talos, para alimentar troncos; também não estarão lá as caqueras que sustentaram as hastes, durante a exposição, como se fora um ninho.

Tudo que fora construído e plantado com tanto trabalho – como de hábito, meu Deus! – é, com naturalidade arrancado, esputado, regurgitado, destrutivamente arado. E todos, conformados (alguns vendidos, outros à venda – prestes a serem comprados) dizem: – Besteira! – É assim mesmo! – Na próxima tem mais!

E assim não aproveitam nada. Não tiram lição de nada. Já não se lembram de nada. Sequer assentam uma muda de ideologia no quintal de casa. Não fazem nada para mudar. Não desejam mudar. Preferem a letargia e o oportunismo, nessa dança descabida, a tempestades mais agudas.

Todos dormem pacientes.

E depois..., com o pires cheio de lágrimas fazem, cada um, a sua tempestadezinha: esmolando, aguando os cílios.

Embriagados de cantilenas ficam à procura de abrigo, de um porto seguro que ofereça cama, comida, roupa lavada e se possível um arbusto que lhe conceda sombra e água fresca para suster caprichos e conservar os mesmos modos. Para isso, repetem a costumeira, cretina e infalível fórmula da adulação, e como trepadeiras, apóiam-se – sonsos, sorrateiros, incompetentes – nos malditos galhos da árvore execrável do FISIOLOGISMO.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Para esquecer o mundo

O fabuloso destino de Amélie Poulain é delicado e sutil, bonito e simpático, e não deixa apenas rastros de exemplo lhano. Interessa e muito, também, o transe, o devaneio, o orgaaaaaasmo na trilha de Yann Tiersen. Portanto, - leitores - gozem (La valse des Monstres)!

Ps.: Sugestão do compadre Walther Moreira Santos - onde quando se começa a conversa a pauta é sempre poesia, cinema, vinho e romances.

Pelo aniversário de Oswald, aquele canibal incorrigível!

Antropoesia

Que o zênite-sina enrole a língua
na voyeurista mandiga
da expressão popular
pelo antro
das caixas, no canto das castas
sob o
hélios grená

Que Apolo grego, num papo zen
contate os iorubas e os orixás
unindo guetos aos fãs de Bach
e o bombo bata para relaxar
enquanto a lata-vira raça e acalma
a ameaça de um shiitake nuclear

Que Oslo, Gregory Peck, Guaribas
e Paquetá
acendam o mesmo sol
num quase instante em que
um vinking chauvinista sentenciar
das runas, baralhos e tarôs
um corvo, um lobo, um carcará
disfarçado de Oswald a se deleitar
nas carnes amassadas
das interpalavras
que juntas são
coxas pés peitos umbigos
bundas bocas - alma:
guerra e paz
na contra-mão da poesia pelo avesso
que, por si, conclui-se sem explicação
mas que, ainda assim, satisfaz


In: Caramelo cor palavra
poema de 2003

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Diploma assinado por Jesus!

Nosso arsenal linguístico está cheio de locuções interjetivas, torpedos que se apóiam na fé ou nas heranças religiosas para invocar, na maioria das vezes - inconscientemente - e de modo vão, as "tadinhas" das divindades.
Quem nunca ouviu alguém dizer (até os mais agnósticos e de personalidades atéias):
- Meu Deus (do céu)!;
- Meu Jesus!;
- Virgem Maria!;
- Nossa Senhora!;
- Jesus Cristo!;
- etc.
Esse montepio cultural de nossa língua é performático até na boca do sujeito menos letrado. Soa natural, e é natural.
Mas quero falar mesmo é sobre o SOBRENATURAL! E aí? Topa?! Então, vamos lá!
Coloquem o disco de Milton: Fé cega, faca amolada para tocar (Eu preciso dessa trilha, rsrsrs...!)
Agora, continuem a ler:
Conhecem a Igreja Universal do Reino de Deus? Aquela mesma que processou - outro dia - a Folha de São Paulo, acusando o jornal paulista de injúria e difamação. Bem... é que o Portal Uai de Minas Gerais, publicou que a tal igreja de Edir Macedo emitiu diploma de dizimista assinado por Jesus Cristo.
Para não dizerem que estou mentindo, tomei a liberdade de roubar a fotografia - usurpando a lei do direito autoral, só para vocês verem uma réplica do certificado devidamente assinado pelo Filho de Deus.

Foto: Sidney Lopes/EM/D.A Press

Tudo isso só veio à baila porque uma senhora - mãe do fiel Edson Luiz de Melo (portador de enfermidade mental permanente), moveu ação, em agosto do ano passado (leia-se 2008), com a finalidade de restituir as ofertas e dízimos que, de acordo com o seu representante legal, ultrapassaria a bagatela de CINQUENTA MIL REAIS.
Ainda, conforme o Uai, no processo consta que 'promessas extraordinárias' eram feitas na igreja, em troca de doações financeiras e dízimo. Teria sido vendida a Edson Luiz, por exemplo, a 'chave do céu'.
Pensando bem..., até que o pacote não saiu caro, não! Estou vendo, seriamente, a possibilidade de adquirir uma chave dessa. Agora eu quero financiada, porque com o meu salário de professor - meu filho - não dá para fazer negócio à vista, não!

PS.: Machado de Assis, se vivo estivesse, repetiria uma de suas frases mais agudas e ácidas de que tenho notícia: "Deus, para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor com casamento."

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Derrubaram o muro. E... qual é a metáfora?

Foto: Política Vitoriense

Passei anteontem pela Matriz (bairro central de minha cidade) e vi que derrubaram o muro. Quem paga para construir? Quem paga para derrubar?
Lembrei-me dos livros de história...
Em 1989 o muro de Berlim foi derrubado. Poderia ser qualquer muro, mas ali (no coração germânico) estavam sendo derrubados preceitos, idéias - cimento de um regime que definitivamente não deu certo. Todos assistiram, regozijados, a um evento que, em um ato, desconstruiu - ao menos naquele momento - o sobressalto que se impunha desde Hitler.
A salina continua a corroer outros muros, muros de ignorância, muros de tijolos amalgamados de soberba, muros que acham que não poderão ruir.
E ruem!
Passado o barulho. O agora é tempo de cauterização de mágoas.
Hoje, talvez seja pedir demais. Contudo, amanhã, espero que os escombros sirvam para edificar paredes que deem abrigo a mentes que combinem cautela com audácia.
Porque nós somos os tijolos, somos a argamassa.
Reconstruamos - portanto - com prumo, nível e angulômetro. Recomecemos!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Celebridade! Rsrsrsrsrs...

Foto de Teresa Maia DP / D.A. Press

Dia 30 de dezembro [2008] foi inaugurado o Parque Dona Lindu. Dona Lindu, mãe do Lula - essa figurinha carismática de Caetés!

Bem, estava pela Mascarenhas de Morais, por ali... pelo Geraldão, quando um foguetório anunciava a fala de nosso presidente. Aí..., como todo bom pobre metido a besta e inxirido, 'afrodescendente'... (digo assim para não ser enquadrado pela Lei 7.716, que define sobre os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor), fiquei curioso.Fui ver o tal Lula e o seu discurso.

Hum! Não deu em outra, como diria Jorge Ben Jor, deu no The New York Times (leia-se aqui, Diário de Pernambuco): fui fotografado - espremido entre outros tantos bisbilhoteiros - ao lado de Luiz Inácio. Até agora estou tendo que aguentar as gozações, as pilhérias e piadinhas.

Minha menina - Maria Vitória, só vive me chamando de celebridade!, É que minha mulher (coisa muito boa - num sabe?!) não tem o que fazer, aí fica dizendo que agora eu estou assim (junte os dedos indicadores para entender melhor) com o "homi".

.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Hibernando...

Após período de ócio e calmaria, flanando na orla das coisas que a mim não compete, voltarei - em breve - com novidades.
Contudo, quero aqui, antes, endossar meus votos para que 2009 seja de saúde-paz-amor-trabalho-e-sucesso - batidos inteiros no liquidificador. Que a alegria reine completa!