domingo, 16 de fevereiro de 2014

Revista trará o SARAU DE CHICO como um dos destaques no combate ao preconceito

Foto: Divulgação / SARAU DE CHICO

A Secretaria da Mulher está organizando revista sobre as ações que tem por objetivo o fortalecimento da consciência crítica a respeito da igualdade de gênero em nosso Estado. Esta semana, fui procurado pela agência que assessora a parte de comunicação da pasta da Drª Cristina Buarque, a fim de que pudesse conceder entrevista sobre as atividades implementadas no NEGRa - Núcleo de Estudos de Gênero e Raça da EREM Bezerros, assim como sobre o trabalho desenvolvido pelo SARAU DE CHICO. Confira!

Oficina Comunicação - O que é o NEGRa?
Marcelo José - O NEGRa, Núcleo de Estudos de Gênero e Raça da Escola de Referência em Ensino Médio de Bezerros é a unidade promotora de ações de formação, pesquisa e extensão, objetivando o desenvolvimento de práxis comprometidas com a transformação social, a partir da promoção dos direitos da mulher, do negro, do indígena e da igualdade entre os sexos. Foi formalmente instituído em nossa escola no ano de 2012, através de um protocolo de intenções - numa parceria entre a Secretaria da Mulher do Estado de Pernambuco e a Secretaria Executiva de Educação Profissional. O SARAU DE CHICO representa - em 30 de outubro de 2013 - o marco que introduziu, em nossa unidade escolar, as ações do NEGRa.

Oficina ComunicaçãoComo surgiu a ideia de criar o projeto 'Sarau de Chico'?
Marcelo José - O SARAU DE CHICO é fruto de pesquisa e análise de campo que ajudou a subsidiar trabalho monográfico apresentado ao Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, visando à obtenção do título de especialista em Linguística e Ensino do Português (2005 – 2007), sob a orientação do Prof. Dr. Aldo José Rodrigues de Lima.

Oficina ComunicaçãoPor que usar as músicas de Chico Buarque?
Marcelo José - Na condição de coordenador do Núcleo de Estudos de Gênero e Raça (NEGRa), na EREM Bezerros, e debruçado sobre o trabalho monográfico que teve como foco em seu primeiro momento a 'leitura', apoiamo-nos no cancioneiro de Chico Buarque de Hollanda, por entender ser a sua música um instrumento eficaz para a reflexão sobre o conceito de gênero, assim como sobre a relação entre natureza e cultura.

Oficina ComunicaçãoQual o objetivo do projeto?
Marcelo José - Esta ação analisa a interação de estudantes do Ensino Médio de uma escola pública da rede estadual (EREM Bezerros) com as canções de Chico Buarque, abordando – necessariamente – temáticas propostas pela Secretaria da Mulher do Governo do Estado de Pernambuco, propondo-se a apresentar caminhos em face da leitura literária na escola, assim como estimular e fortalecer a produção de consciência crítica sobre as relações de gênero, contribuindo para a promoção dos direitos das mulheres em sua diversidade.

Oficina ComunicaçãoDesde quando o projeto existe?
Marcelo José - Entre os anos 2005 e 2007, por ocasião do curso de pós-graduação (lato sensu) LINGUÍSTICA E ENSINO DO PORTUGUÊS, na UFPE, defendi o seguinte projeto monográfico: A CANÇÃO COMO PRÁTICA SOCIAL DE LEITURA NA ESCOLA: CHICO BUARQUE DE HOLLANDA. Desde então, já se vão 03 saraus por onde atuei enquanto professor de Língua Portuguesa (RECITAL LÍTERO-MUSICAL DO SESC - 2006, SARAU DA GUIOMAR - 2008 e mais recentemente em 2013, com o SARAU DE CHICO).

Oficina ComunicaçãoOnde acontecem as apresentações?
Marcelo José - Já realizamos apresentações para um público estimado de 2 mil pessoas. Estudantes, educadores, pais e responsáveis são - em grande maioria - os expectadores do SARAU DE CHICO. Universidades, feiras literárias e formações para professores serviram, até aqui, de espaço para as performances de nosso grupo.

Oficina ComunicaçãoQuantas pessoas participam?
Marcelo José - No SARAU a participação se deu até agora por adesão. E a ideia é essa. Não cabe imposição à leitura. É, portanto, o que temos buscado instituir: estimulando o 'paladar' dos nossos estudantes para um letramento literário que proporcione alegria, prazer e, a reboque disto, reflexão. Hoje, alguns dos nossos integrantes já não estão mais na escola. Concluíram o Ensino Médio. Mas asseguro que o SARAU serviu de academia ao exercício de, diretamente 50 jovens muito talentosos, que do teclado ao violão, do pandeiro ao violino, do clarinete ao saxofone intuíram em nossa comunidade escolar o gosto pela poesia de Chico.

Oficina ComunicaçãoComo foi a receptividade do projeto?
Marcelo José - Em tempos de canções cujo enredo é "vou dá-lhe de cano de ferro" e "rapariga é você", apresentar a poesia de CHICO BUARQUE pode parecer insulto. E num primeiro momento até pareceu. Teve quem, em nome de um ecletismo sem sentido, olhasse para o projeto com olhar de soslaio. Talvez continue a olhar. É legítimo e democrático que tenha liberdade para assim se comportar. Mas é tarefa do educador abrir caminhos diversos do lugar comum, sobretudo e em especial aqueles profissionais que têm como encargo a tarefa de estimular a leitura de textos e o compromisso de fazer com que estudantes consigam interpretar o mundo. É fundamentado, pois, na TEORIA DA RECEPÇÃO de Wolfgang Iser e Hans Robert Jauss - estudiosos que analisam a interação entre o texto literário e o leitor, que a proposta de formação encampada pelo SARAU DE CHICO se propõe.

Oficina ComunicaçãoEle é apresentado apenas em Bezerros?
Marcelo José - Não. É uma atividade formativa que se pretende como ação itinerante. A minha ideia é a de levar esta proposta para o maior número de pessoas. Atualmente, estamos envolvidos em uma proposta que possibilite conexões entre o nosso calendário de ações e a programação de outros núcleos. A novidade é que os nossos estudantes, em particular os egressos e que já alcançaram a maioridade, possam interagir com estudantes e pesquisadores de outros estabelecimentos de ensino. Como atuo, também, no Ensino Superior e integro a equipe que coordena o Núcleo de Estudos de Gênero e Enfrentamento à Violência contra a Mulher da Faculdade Escritor Osman Lins (Facol), em Vitória de Santo Antão, tenho em mente consolidar o intercâmbio e a troca de experiências com êxito. Suponho que será enriquecedor e que a nossa sociedade civil terá à sua disposição atividades que promovam a valorização e o respeito para com todos.

Oficina ComunicaçãoVocê é o coordenador do projeto?
Marcelo José - Sim. Na verdade, se este é o nome, diria que sim. Represento a comunidade escolar, através do NEGRa (Núcleo de Estudos de Gênero e Raça da EREM Bezerros) nas formações realizadas no âmbito da Secretaria da Mulher do Estado de Pernambuco. Em parceria com educandos e educadores, buscamos a materialização das teorias - nesses encontros - fomentadas. Quanto ao SARAU DE CHICO, por ser objeto meu de estudo já há alguns anos, coloquei-o em pauta e fizemos dele nossa primeira ação do núcleo, em nossa escola. Mas para isso acontecer, foi necessário - além de toda energia dos mais de 50 estudantes diretamente envolvidos - a colaboração de nossa valorosa equipe de professores, com destaque especial para Adalberto Monteiro, Antônio Simões, Raimundo Silvano, Josemeri Gomes, Rosimere Lima, Missimere Carvalho, Dalka Carvalho, Débora Bruce, Djair Batista - entre outros. É preciso evidenciar, aqui, também, o apoio da equipe gestora, por intermédio das professoras Êda Cabral e Aparecida Xavier.

Oficina Comunicação O projeto é voltado apenas para o público feminino?
Marcelo José - Nosso objetivo é contribuir para a prática de condutas sociais que enfrentem a discriminação, a violência, o preconceito. Deste modo, é uma escolha que não permite nem cabe segregar por gênero.