segunda-feira, 4 de maio de 2009

Morrer no Brasil é foda!

Foto: Divulgação

Augusto Pinto Boal nasceu na Cidade Maravilhosa, em 16 de março de 1931. Foi diretor de teatro, dramaturgo e ensaísta brasileiro: uma das grandes figuras do teatro contemporâneo internacional. Fundou o Teatro do Oprimido, inspirado na homônima e tão internacionalmente propalada pedagogia do pernambucano Paulo Freire. Suas técnicas e práticas, que aliou teatro à ação social, difundiram-se pelo mundo, notadamente nas três últimas décadas do século XX, sendo largamente empregadas não só por aqueles que entendem o teatro como instrumento de emancipação política mas também nas áreas de educação, saúde mental e no sistema prisional.

Pela sua história de dedicação à Arte e à "cidadanização" das pessoas é que Boal foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 2008, e em março de 2009 nomeado, pela Unesco, embaixador mundial do teatro. Augusto Boal sofria de leucemia e morreu por volta das 2h40min do dia 2 de maio de 2009, aos 78 anos, no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Samaritano, em Botafogo, na Zona Sul do Rio, por insuficiência respiratória, e, sem maiores repercussões. No Brasil, valoriza-se pouco quem muito faz. Perguntei a alguns dos meus alunos se sabiam sobre este artífice do Teatro. Responderam à minha pergunta com outra: Quem é Boal, professor?

Assim sendo, concluo que o país de Boal não é digno de sua biografia, biografia esta que a ele rendeu um reconhecimento que pode ser expresso em comentários de quem não é do Brasil. Muitos estranhos e estrangeiros falaram sobre Boal, disseram sobre sua herança para a cultura do mundo. Mas brasileiros, foram muito poucos. Enquanto Richard Schechner, diretor do The Drama Review dizia que Augusto Boal conseguiu fazer aquilo com que Brecht apenas sonhou e escreveu, ou seja, um teatro alegre e instrutivo, alunos e professores desavergonhadamente teatralizam todos os dias um mesmo ritual: fingem que aprendem, dissimulam quando ensinam.

Ah!, como eu queria ouvir agora aquela fala mansa de Augusto Boal, que - como bem disse Aderbal Freire Filho em artigo recente à Folha de São Paulo - com ritmo, com música que vai juntando frases harmoniosamente, com um pensamento claro, com cadência de palavras, com respiração buscada no fundo do peito para uma frase que saia ligeira e com extraordinária clareza logo assim que o raciocínio se completa. Fala esta... tal qual como quando disse, dia desses, na Unesco: "Atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma!" No entanto, lamentavelmente, os ouvidos da esmagadora maioria de brasileiros e brasileiras continuam fechados.

Aí sim, é que é foda!

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