sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Deficiente físico passa por constrangimento em agência do Banco do Brasil, em Vitória


Fotos: Marcelo De Marco

Este não é Stephen Hawking – matemático e físico – portador de esclerose lateral amiotrófica: doença neuromotora grave que ataca os nervos e dificulta o controle dos movimentos voluntários do corpo. Este também não é Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho – escultor barroco – com sérias limitações físicas provocadas pela tromboangeíte obliterante, mal que, aos poucos, o fez perder os membros superiores e inferiores. Este, na verdade, é RINALDO ADRIANO MACENA DE ALMEIDA, 35 anos – o NENÉM DA CADEIRA DE RODAS. Morador do Beco do Borges, em Vitória.

Certamente, ele não é alguém que tenha amealhado fama, descoberto a cura para a AIDS, tampouco inventado a roda. Mas ainda que tivesse curado aidéticos e sido o precursor da maior invenção do mundo, em Vitória de Santo Antão (TERRA DE CHICO CITY), continuaria a ver navios, continuaria a ser um sujeito à margem e a contemplar regras sendo quebradas, leis sendo desobedecidas: inversões de valores à luz do dia, na maior caradura – mantendo sempre no rosto uma expressão neutra, impassível – como se a violação ao direito devesse ser fato assimilado com naturalidade.

Office boy há 10 anos, Rinaldo, ou melhor – Neném – é um sujeito pacato e que goza de relativa notoriedade na Terra de Mariana Amália. Tranquilo, não está nem aí para eufemismos que tentem maquilar suas limitações físicas. Para ele, definições criadas para esvaziar a suposta negatividade do termo "deficiente físico", como a expressão politicamente correta "portador de necessidades especiais" não o abalam, mesmo que de maneira dissimulada denunciem o quanto nossa sociedade é hipócrita ao omisiar seus preconceitos.

Todavia, o que causa insatisfação mesmo, não apenas ao cadeirante, mas a qualquer indivíduo minimamente esclarecido, é o apartheid social escancarado e o modo como nossa sociedade abarrotou-se de pessoas portadoras do vírus do despreparo – terrível e desconfortável endemia. Somos uma sociedade deficiente culturalmente –, somos um povo mesquinho, mal educado, que não respeita o direito alheio e que é implacável ao infringir o conceito de cidadania. Padecemos, portanto, de falência intelectual.

Para se ter melhor compreensão, sobre tamanha desfaçatez, é preciso conhecer a história de Rinaldo. Cinco vezes ao mês ele se desloca da galeria – onde presta seus serviços – até a agência do Banco do Brasil. Lá, passa pelo habitual constrangimento de ter que descer de sua cadeira, passando pela porta giratória, rastejando-se até um dos guichês, a fim de ser atendido. Segundo ele, esta recepção é fruto de decisão gerencial que recomendou à vigilância a não abertura da porta lateral. A resposta dos guardas, quando questionados sobre o fato, é sempre a mesma há dez anos: norma do banco! Acrescentou Neném, flagrado pela indignação dos que presenciaram tal cena se repetir hoje (19, FEV).

Desde 2001 existe legislação (resolução 2878 de 26/07/2001) determinando que instituições financeiras disponibilizem em suas dependências alternativas técnicas, físicas ou especiais que garantam – além de atendimento prioritário – facilidade de acesso, acessibilidade a mesas e terminais de autoatendimento, bem como facilidade de circulação, para as pessoas com mobilidade física reduzida. No entanto, o que vemos é o atropelamento velado ao direito total e irrestrito do ir e vir dos cadeirantes.

O que mais deprime é o fato de sabermos que a agência de Vitória (0233-x) possui rampa de acesso e entrada especial – podendo poupar pessoas como Rinaldo de tamanha sujeição. Para se ter ideia, o BB estabeleceu um novo RECORDE, em 2008, com um LUCRO de R$ 8,8 bilhões. Mas lamentavelmente, os investimentos em tecnologias, os pisos táteis para deficientes visuais, os caixas eletrônicos e os banheiros adaptados para esse tipo de público ainda não chegaram às unidades bancárias mais periféricas como deveriam.

Agora, todo este descaso não tem a menor importância quando comparado aos profissionais "responsáveis" pelo gerenciamento e pela administração dessas agências. Porque aí claramente se trata, em sua maioria, de pessoas insensíveis e portadoras de "deficiências educacionais especiais progressivas", pois desconhecem os verbetes SOCIAL, INCLUSÃO, RELAÇÃO, HUMANO. E achando pouco ainda fixam um cartaz cínico e amarelo na entrada, onde se lê: CONTE COM O BANCO QUE É TODO SEU.

Inicialmente, ante o paradoxo, até que julguei ingênua a mera peça publicitária disposta na parede. Mas depois conclui que não: É DEBOCHE MESMO!

16 comentários:

  1. Por meio deste, venho a interceder à solidariedade e ao respeito, dentre outros ítens sob os quais os valores HUMANOS deveriam estar envolvidos.
    Isto afim de que uma pequena quantia que faz parte da grande massa, não sinta-se conformada com tais danos insensíveis, porém perceptíveis ao ver-se as consequencias e a "vida" que se vive.
    Também, falo-lhes que sintam-se indignados e poderosos no que diz respeito respectivamente a situação e mudança. Já canta Gabriel o Pensador:
    "Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente, agente muda o mundo com a mudança da mente e quando a gente muda agente anda pra frente..."
    "Portanto meus amados irmãos sedes firmes e contantes, esmpre abundantes... sabendo que o vosso trabalho não é vão..."(1 co 15;58)

    Ass.
    André (o Fuleiro)

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  2. O Banco do Brasil de Vitória coleciona absurdos.
    E a invasão da calçada???
    Isto, numa cidade séria não aconteceria. Uma instituição que se diz preocupada com as pessoas não deve cometer barbaridades como essa.
    PREFEITO, FAÇA ALGUMA COISA!
    Pelo menos não permitir a usurpação das vias públicas é competência do município. Portanto, faça valer as suas prerrogativas e dê um prazo para o Banco do Brasil fazer a rampa de acesso dentro dos limites - informados em cartório - de sua área construída, e não roubando os espaços que cabem aos pedestres.

    Luiz Carlos
    naugusto.eaf@hotmail.com

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  3. Infelizmente, Marcelo, esse comportamento preconceituoso é apenas uma pequena amostra do que os portadores de quaisquer deficiências passam em nossa cidade. Realmente me senti enojada com o que você relatou e, de certo modo, posso dizer que alegrou-me a sua sensibilidade. É mais fácil para a grande maioria das pessoas simplesmente ignorar esse tipo de coisa, no máximo demonstram um certo desconforto ou indignação e dois segundos depois tudo já foi esquecido.
    Valorizo seu gesto e repudio a atitude dos responsáveis pela segurança e pela gerência do BB de Vitória.
    UMA VERGONHAAAAAA!!!!

    Carol.

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  4. Realmente, acho que foi difícil ser uma pessoa sem pernas... :/

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  5. nossa essa materiA ficou muito boa a qui em vitória nimguen respeita os deficiente fisico pois te mos q mudar isso

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  6. Marcelo
    Infelizmente esse tipo de agravo não ocorre somente aqui na agência 0233-x do BB O Banco q tem o "seu nome"... Muito bonita a jogada de Marketing q nos coloca mero cidadãos como co-participantes de uma instituição Nacional de tamanho porte. Porém a realidade é outra... descaso!
    Sabendo q esse tipo de atendimento ao deficiente se estende à inúmeras instituições. Espero q isso veha mudar em breve. Um abraço.

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  7. É... infelizmente, essa é a realidade. Muita incompetência da parte da gerência. Deveriam abrir as portas laterais pra ele passar.
    ...............................
    Na verdade, sabe o que é isso: "DESCONFIANÇA"... supoem que ele possa levar algo escondido na cadeira. Se não for isso, então é o quê?

    Manoel Araújo

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  8. ISSO É O BANCO DO BRASIL, O BANCO DE TODOS...! VAI DEVER P/ELE!!! Talvez quando entrar mais alguns milhões, eles pensem em colocar uma entrada para deficientes ou os tratem melhor, pois a ré-cardação de 8,8 milhões não é viável fazer uma melhor passagem para deficientes.

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  9. Coincidindo com os leitores acima:
    sobre o absurdo das instituições de bem público por assim se-dizer,
    observo tb o conformismo dos usuarios acostumados aos exageiros
    por parte das mesmas,apelo à gran massa a se manifestarem não so diante estes acontecimentos,senão que tb exijam melhorias e organização dos espaços aos representantes dessa maneira será adquirida a consciencia da urbanidade.
    pd marcelo,atualice sua nota sobre a advogada sa suiça

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  10. Não quero aqui defender algumas atitudes do Banco do Brasil ou qualquer banco que seja. Trabalhei vários anos na área de segurança da sala de auto-atendimento. Por uma razão ética, é claro, não posso citar os vários tipos de modo operandis que conhecí em meus treinamentos internos, onde se usa todo o tipo de artificio para se inserir armamentos no ambiente bancário, na busca de cometer delítos penais. No entanto o banco peca por não dar a devida atenção ao fato, preparando melhor todos os profissionais envolvidos na abordagem inicial aos clientes que pretendem ter acesso as agências em todo país. Sem contar que junto com o fato, temos a constante presença de pessoas que se acham eximias conhecedoras de direitos, mas esquecem de conhecer os deveres de um bom cidadão.
    É a velha convivência humana, que não seria a mesma sem a controvérsia de opiniões.

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  11. Caro Elias, você tem razão no que disse. Mas ainda assim, não se explica a política de atendimento do BB em Vitória de Santo Antão.

    Quanto ao leitor Anônimo,

    Obrigado pela participação!

    Quanto ao que disse, concordo que temos uma cultura de pacimônia. É preciso se posicionar, sobretudo diante de absurdos. Não tenha dúvida.

    Com relação ao caso da brasileira na Suiça, aguardarei o desfecho dos fatos (o que está se aproximando, creio eu) para comentar sobre o episódio e também sobre a imprensa, quando se antecipa e é inconsequente (aí, inclui-se blogueiros também).

    Obrigado pela sugestão de pauta.
    Grande abraço!

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  12. Lamento o ocorrido.
    Não conheço o cidadão cadeirante e imagino que não é nada digno e confortavel ter que subir escadarias rastejando para um atendimento convencional bancário.
    Apenas como sugestão, seria melhor um entendimento entre ele e o pessoal administrativo do banco porque as vezes as pessoas que realmente decidem recebem informações incompletas ou prejudicadas por emoções das partes envolvidas: cadeirante e seguranças do banco.
    Existe ainda, pessoas portadoras de limitações que são mal-humoradas e por conhecerem parcialmente seus direitos, exigem de forma grosseira o atendimento especial. Espero não ter sido esse o caso. O BB é uma instituição séria e devemos trata-la assim, é melhor que só jogar pedras.

    A matéria informa:
    "Office boy há 10 anos, Rinaldo, ou melhor – Neném – é um sujeito pacato e que goza de relativa notoriedade na Terra de Mariana Amália. Cinco vezes ao mês ele se desloca da galeria – onde presta seus serviços – até a agência do Banco do Brasil. Lá, passa pelo habitual constrangimento de ter que descer de sua cadeira, passando pela porta giratória, rastejando-se até um dos guichês, a fim de ser atendido."
    Em 10 anos, cinco vezes ao mes, todo esse pessoal que opinou teve tempo de orientar o Rinaldo e interceder junto a administração do Banco por ele, se é office boy, seus empregadores não fiquem de braços cruzados. E ele esse tempo todo concordou com isso ?
    Acho que o entendimento das partes resolverá tudo e "a justiça e a paz, se abraçarão".

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  13. gostei das virgens da vitoria, marcelo ficou um filer ass:estanislau

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  14. É muito desagradável saber que uma pessoa com deficiência tenha que passar pelo constrangimento de se rastejar para poder ser atendido. Só em Vitória mesmo.

    Josilene Santos - Travessia

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  15. narreu professor o senhor saio de bailharina de sapatilha
    ass:manuel

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  16. Realmente meu querido amigo é difìcil ver uma situação como essa e ficar calada...não dá pra engolir messssssssssmooooo mas todos nós temos um pouco de culpa, vezes por nos deixarmos calar, vezes por comodismo mesmo, vezes por não estarmos no lugar dessas pessoa portadoras de necessidades especiais, vezes por egoísmo...costumamos não lutar pelos DIREITOS HUMANOS, costumamos esquecer de tantas coisas essenciais...e quando nos deparamos com um descaso como esse fica uma pergunta angustiante arranhando a garganta...Onde está minha voz que deixou isso acontecer mais uma vez? Somos um pouco responsáveis por deixar isso acontecer, estou com vergonha de fazer, mesmo implícitamente,parte desse descaso, porque sou cidadã vitoriense, cidadã pernambucana, cidadã brasileira...cidadã que paga impostos,cidadã que batalha por dias melhores, que sonha um dia sair nas ruas e nem em sonho ver uma cena dessa...sou gente de igual valor a esse cidadão, por isso me envergonho por tanto DESCASO.Sou cidadã de um mundo doente. Maria Leite cidadã de uma república enlutada.

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