A dinâmica proletária tem me imposto uma rotina que não reserva tempo sequer à escrita do resmungo, do bom desabafo, da ironia irremediável e velada, do 'puta que pariu' espontâneo, e até mesmo do gracioso... explosivo e muitas vezes involuntário convite a tomar no esfíncter, essa palavra tão sonora e mágica, esse endereço monossilábico e cru.
A dinâmica proletária é bem comportada e não me tem dado espaço para improvisos. Não me concede apartes, tampouco me oportuniza à sagrada necessidade da réplica, da tréplica: essa cara e imprescindível necessidade do humano de estabelecer relações dialógicas, comunicar-se. Assim sendo, essa dinâmica proletária é indiferente e chata. É um saco! É burra!
E ao contrário do que muita gente pensa, a dinâmica proletária não é coisa que ficou lá na Roma Antiga, ou no século XIX - naquele passado de Smith e Marx. Aliás, é matéria do dia. A dinâmica proletária é oxigênio reutilizado em pulmões falidos de atletas sem perspectiva de pódio. É atual, mas não é moderna. É por isso que muita gente já está cansada.
E, a despeito daquilo que acontece em nossas principais praças, entre 'arruaças' e coquetéis molotov, o Brasil real e periférico mantém-se inerte e abestalhado. O barulho das máquinas no chão das 'fábricas' (repartições públicas e representações sindicais) anestesiou o proletariado - que sem forças, não questiona. Não perturba a ordem estabelecida. Não faz muxoxo ante o status quo inabalável.
O proletário é um objeto com tempo de validade prefixada e que tem a gloriosa missão de gerar proletariosinhos de bosta, com a mecânica e honrada utilidade de multiplicar a inércia do fazer nada. Quando muito, uma vista grossa ali, um entrar mudo e sair calado acolá. Alienados, reproduzem com alegria e júbilo o 'efeito manada'. Aleluia, irmão! Amém!
Na minha cidade, por exemplo, tem gente pós-graduada na arte do silêncio. Manietadas pelos favores e benesses, há muito perderam a chave das algemas. E aí... já viu: cordão umbilical comprometido, dignidade defenestrada. Os maus políticos se refestelam, agradecem e, numa acumulação primitiva questionável, fazem da atrofia cerebelar proletária o seu maior capital.
Conheço pencas de proletários que, mesmo sem se darem conta, dão aula grátis de como não ser cidadão! Suburbanos metidos a aristocratas reverberando teorias que jamais porão em prática. Pseudointelectuais regurgitando a ideia alheia que não foi testada, sequer, na geografia da sua casa. Ainda assim se divertem num circo em que protagonizam, do auge da inconsciência, o jocoso papel de ser 'brasileiro'.
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