quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Vestibular 2010 UPE / Literatura

Foto meramente ilustrativa


Seguem respondidas as questões do Vestibular 2010 UPE:


Texto C


Que Mário!



(Por Marcílio Godoi)



“Meu querido Manoel, hoje és, e não te ofenderás com a metáfora, és uma propriedade minha. És uma fazenda que eu comprei. Comprei com minha alma... Creio poder passear, de pijama, com a simplicidade desvestida dos meus sentimentos nos carreadouros domeu cafezal.”



(De Mário de Andrade a Manuel Bandeira)



Mário Raul de Morais Andrade estava presente no lançamento do Modernismo, no famoso banquete do Trianon, em 1921. Na ocasião, foi apresentado ao público por Oswad de Andrade como “meu poeta futurista”. Essa sua face, das revistas Klaxon, Ariel e Nova, do Mário que publicaria depois obras antológicas como Losango Cáqui e Paulicéia Desvairada, em poesia; e Amar, Verbo intransitivo e Macunaíma, em prosa, é só a mais conhecida dele. Mário de Andrade são vários, todos aficionados pela cultura brasileira. A saborosa correspondência andradiana a amigos, como Portinari, Bandeira e Drummond, é a melhor forma de conhecê-lo: seus dilemas, sua ideia do Brasil, sua rixa com o Rio de Janeiro, sua tristeza com o Estado Novo, ele que era um Constitucionalista. Um enfarte o levaria em 1945. Talvez ali apenas um deles tenha morrido, pois tantos outros Mários nos ficam até hoje.



(Revista Língua. Ano 3, n.45, julho de 2009, p. 66).



01. O Texto C – que, além de uma figura, traz também um trecho de uma carta de Mário de Andrade a Manuel Bandeira e um comentário do articulista Marcílio Godoi –, refere dados interessantes de nossa literatura nacional. A partir desse conjunto de informações, é pertinente concluir que:



I. o trecho da carta de Mário a Bandeira é essencialmente metafórico. As imagens vão-se articulando, uma a uma, e coerentemente se harmonizam na direção de um “à vontade” sem restrição.

II. a cultura brasileira exercia sobre o Mário poeta um grande fascínio. Contudo, como romancista, Mário se deixou seduzir pelos cenários e tipos da Lusitânia erudita.
III. ‘obras antológicas’, mesmo de cunho literário, são obras que tratam de questões antropológicas e filosóficas.
IV. no texto do articulista, Mário é apresentado como tendo várias faces. A multiplicidade de suaatuação literária e política justifica essa visão. No final, uma face apenas do Mário ‘plural’ não é mais visível.
V. a correspondência epistolar assinada por Mário e endereçada aos amigos é também autobiográfica. Nela se podem perceber revelações da ‘vida andradiana’, em sua dimensão social e política. As conclusões são aceitáveis apenas nos itens:


A) I e II.

B) I, IV e V.
C) I, II e III.
D) I, II e V.
E) I, III e IV.




02. A partir do texto C e dos aspectos que envolvem a primeira fase do Modernismo brasileiro, analise as proposições a seguir.



I. A chamada Semana de 1922 oficializou o início de um novo período para as artes brasileiras, em que a renovação crítica e a busca de uma nova expressão da cultura nacional se tornaram a tônica maior.

II. Um dos expoentes do Modernismo brasileiro, Mário de Andrade foi chamado de poeta futurista por Oswald de Andrade, porque escrevia poesias sobre temas não pertencentes ao presente histórico do poeta, mas pertinentes a um futuro distante.
III. Apesar de não ter estado presente à Semana de 1922, Manuel Bandeira provocou furores a uma parte da plateia do Teatro Municipal de São Paulo, depois que seu poema ‘Os Sapos’ foi lido por Ronald de Carvalho.
IV. Mário de Andrade e Manuel Bandeira se tornaram amigos e admiradores recíprocos. Como se lê no texto C, Mário de Andrade confessa que os poemas de Bandeira sobre a cultura cafeeira despertam-lhe na alma grande emoção.
V. Tanto Mário de Andrade quanto Manuel Bandeira produziram uma arte poética em consonância com o falar do povo brasileiro. Em seus poemas, a coloquialidade era um elemento que contrastava com o verso erudito dos parnasianos.


Estão CORRETAS apenas:



A) I, III e IV.

B) II, IV e V.
C) I, III e V.
D) I e III.
E) II e V.




Texto D



O Bicho



Vi ontem um bicho

Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.


Quando achava alguma coisa;

Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.


O bicho não era um cão,

Não era um gato,
Não era um rato.


O bicho, meu Deus, era um homem.



(BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993).



03. Considerando o poema de Manuel Bandeira bem como as características que marcaram a obra do poeta, leia os enunciados seguintes.



I. Em ‘O Bicho’, Bandeira escreve um poema de caráter narrativo, de forte apelo social e político, chamando a atenção do leitor para a situação degradante dos miseráveis.

II. O texto se constrói a partir de uma imagem que repercute na alma do eu-poético, fazendo-o horrorizar-se diante da condição a que pode chegar o ser humano.
III. A terceira estrofe é toda construída por negativas, o que contraria as expectativas do leitor criadas desde o título do poema.
IV. A última estrofe, constituída de um verso apenas, faz uma identificação incomum do ser humano, que revela o mistério alimentado ao longo do poema.
V. Por conta desse poema, Bandeira foi preso pela ditadura de Vargas, situação que lhe permitiu escrever sua obra-prima, as ‘Memórias do Cárcere’.


Estão CORRETOS apenas:



A) I e II.

B) III, IV e V.
C) I, III e IV.
D) I, II, III e IV.
E) II, IV e V.




04. Sobre as Cartas Chilenas e o contexto histórico-literário em que se inserem, analise as proposições a seguir.
I. As ‘Cartas Chilenas’ constituem o primeiro caso brasileiro de produção de poemas satíricos, ou seja, poemas destinados à sátira de situações sociais e políticas.
II. Valendo-se de nomes fictícios, as cartas fazem referências à administração de Luís da Cunha de Meneses, governador da capitania de Minas Gerais, de 1783 a 1788.
III. O poeta se utilizou de uma série de convenções retóricas que faziam parte dos princípios literários do Arcadismo.
IV. Nas cartas, a descrição da natureza constitui um prenúncio do Romantismo brasileiro, uma vez que a alma do poeta divaga nas imagens descritas.
V. Visto que as cartas foram distribuídas anonimamente, não se sabe, hoje, ao certo quem as escreveu; o que há são suposições infundadas.


Estão CORRETAS apenas:



A) I, II e III.

B) I, IV e V.
C) II, III e V.
D) III e IV.
E) I, II, III e V.




Nas questões de 05 a 09, assinale, na coluna I, as afirmativas verdadeiras e, na coluna II, as falsas.



05. O ciúme é um dos temas capitais da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis. A respeito desse tema bem como do romance e do contexto histórico em que surgiu a obra, analise os enunciados seguintes e conclua.



I II



0
0 Com esse romance, Machado de Assis demonstra como o ciúme corrompe os laços de afetividade entre sujeitos que poderiam, de outra forma, gozar da felicidade conjunta.
1 1 Num paralelo significativo, o narrador faz mais de uma vez referência a Otelo, personagem shakespeariana que, movido pelo ciúme, assassina sua própria esposa.
2 2 A obra constitui um caso típico do Romantismo brasileiro, uma vez que a personagem central, Bento Santiago, por causa do amor e do ciúme avassaladores, destrói seu equilíbrio e sua paz interior.
3 3 Todo o romance é uma tentativa do narrador para justificar seu ciúme por Capitu, a fim de expurgar uma culpa que ainda traz latente: a de ter sido responsável pelo desfecho do matrimônio.
4 4 O ciúme obsessivo pode forjar uma realidade inexistente; por isso nunca saberemos se Capitu de fato traiu ou não Bento Santiago, uma vez que o narrador, sendo o próprio esposo, é parcial e não plenamente confiável.




Texto E



Mãos dadas



Não serei o poeta de um mundo caduco.

Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.


Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,

não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.


(ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 1992).



06. Levando em consideração o texto e as características da poética de Carlos Drummond de Andrade, leia as seguintes afirmações e conclua.



I II



0
0 A metalinguagem é um recurso recorrente na poesia de Drummond, como neste poema, em que o primeiro verso de cada estrofe, por exemplo, faz referência ao próprio ato poético.
1 1 No poema, o eu-lírico faz um jogo expressivo entre os tempos verbais. Valendo-se do presente, do pretérito perfeito e do futuro do pretérito, o enunciador realça o que é dito no plano do conteúdo.
2 2 O poema é construído à base da negação. Do ponto de vista estilístico, o enunciador nega as diversas opções temáticas para afirmar o que constitui seu foco como eu-lírico.
3 3 O texto consiste num antipoema. Nele, o enunciador confessa que todas as possibilidades de escrever um poema foram esgotadas diante da condição degradante em que se encontram seus pares.
4 4 O título do poema remete à solidariedade. Em todo o texto, percebe-se a necessidade da produção de uma arte comprometida com os problemas do homem contemporâneo.




07. Em 1943, o encenador polonês Ziembinski leva ao palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro a segunda peça de Nelson Rodrigues, Vestido de Noiva. Tomando como referência essa obra e o contexto em que ela se insere, analise as afirmações abaixo e conclua.



I II



0
0 ‘Vestido de Noiva’ deu continuidade às conquistas estéticas do teatro moderno brasileiro, representando a terceira fase do movimento.
1 1 A peça de Nelson Rodrigues inova na esfera do conteúdo, mas, do ponto de vista formal, mantém a mesma estrutura dos dramas que fizeram sucesso no Brasil até então.
2 2 Conflitos familiares e disputas amorosas entre irmãos são uma constante na obra de Nelson Rodrigues, não sendo exceção o caso de ‘Vestido de Noiva’.
3 3 A personagem Madame Clessi constitui um símbolo do desvio de conduta da moral burguesa, algo que compõe a fantasia da protagonista Alaíde.
4 4 Ao final da peça, Pedro escandaliza toda a sociedade carioca, casando-se, simultaneamente, com as duas irmãs, Alaíde e Lúcia, que surgem em cena vestidas de noiva.




08. Neste ano, foi comemorado o centenário de nascimento do poeta cearense Patativa do Assaré. Valendo-se dos conhecimentos referentes a sua obra e aos elementos constitutivos do estilo de sua poesia, considere as afirmações abaixo e conclua.


I II


0 0 Poeta escolarizado e de nível universitário, Patativa do Assaré optou por escrever o cancioneiro popular por uma questão de afinidade maior.
1 1 A poesia popular nordestina, da qual Patativa do Assaré é um de seus representantes, se inscreve na tradição oral da região, tendo geralmente um cantador que improvisa ou narra diferentes casos.
2 2 Parte da produção de Patativa do Assaré consiste em folhetos de cordel, um gênero de poesia épica que canta os feitos heroicos de uma personagem, a qual representa os valores ideais de uma nação.
3 3 Um de seus cordéis, intitulado ‘O padre Henrique e o dragão da maldade’, se mostra engajado ao fazer referência ao período da ditadura militar, representada pela alegoria do dragão da maldade.
4 4 Esse cordel é estilizado, e os símbolos e as alegorias sofisticadas preveem a leitura de um público intelectualizado, não sendo, pois, acessível à compreensão da camada popular.




09. O Casamento Suspeitoso é mais uma das comédias que compõem o rol da dramaturgia de Ariano Suassuna. Considerando os elementos que dão forma à estrutura da peça, analise as proposições a seguir e conclua.



I II


0 0 Trata-se de uma comédia de costume, gênero que se caracteriza por sempre enfocar, de forma cômica, a crítica ao clero.
1 1 Um dos elementos recorrentes desse tipo de comédia é o apelo sexual, o que explica, na obra de Suassuna, a preferência pelo uso de imagens e gírias mais estigmatizadas.
2 2 Na peça, o empregado e seu companheiro são responsáveis pelo desenvolvimento da trama e remetem à tradição popular nordestina.
3 3 Cancão é bem sucedido no desfecho da peça. De forma comicamente maliciosa, dá o golpe nos noivos e fica com o dinheiro do inventário.
4 4 Ao final da peça, revela-se o lado narrativo e didático da comédia: as personagens se dirigem aos espectadores, apresentando a moral da história.


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