sábado, 18 de setembro de 2010

Projeto Tiririca esconde velhas e viciadas práticas do processo eleitoral brasileiro


Alguém já se perguntou por que a Justiça permite candidaturas como a de Tirica? Bem... José Roberto de Toledo, em seu blog, no Estadão, é didático quando explica como os partidos apostam em 'celebridades' ou postulantes cômicos - verdadeiros filões de votos - para angariar números que ajudem a legenda a eleger nomes menos expressivos.

No caso específico de Tiririca, os coligados calculam uma votação maciça com fins pouco nobres: ajudar com os votos excedentes, gente como Valdemar Costa Neto (PR) - envolvido recentemente no escâdalo do mensalão, Ricardo Berzoini (PT) - ex-presidente do PT e o delegado Protógenes Queiroz (PC do B) - punido no caso Satiagraha.

Francisco Everardo Oliveira Silva corre o apetitoso risco de ser o deputado federal mais votado do Brasil, em 3 de outubro. Pouca gente reconhece esse nome, especialmente os 'revoltados' eleitores do palhaço. Mas a tática de Tiririca não é boba nada. Ele aparece em 1º lugar no conjunto de pesquisas do Ibope sobre a eleição para a Câmara.

Se você não tem visto muito televisão nas últimas décadas, ou - no caso específico de quem mora no Nordeste - não tem em sua casa instalada uma antena parabólica, passou incólume por uma propaganda eleitoral que exibe um Tiririca, 45 anos, que lê e escreve, que se auto-define como 'abestado' e tem como slogan "pior que tá num fica, vote Tiririca".

Conforme noticiou o articulista do jornal da Terra da Garoa, não se trata de nenhuma piada. É um projeto político friamente calculado. Oliveira Silva é candidato pelo PR, em coligação que inclui o PT e o PC do B. Prova da seriedade do projeto é que, até o último dia 3, o partido havia investido R$ 594 mil, oficialmente, na campanha do palhaço.

Tiririca é o principal puxador de votos do PR, do PT e do PC do B em São Paulo. Se chegar a 1 milhão de sufrágios, seu excedente de votos elegerá mais 4 ou 5 deputados da coligação, como foi o caso do dr. Enéias - em outros tempos, quando, pelo Prona, levou de carona para a Câmara dos Deputados 5 candidatos, um deles obteve apenas 275 votos.

Para Toledo, o "projeto Tiririca" é um bom retrato do sistema de coligações que impera nas eleições parlamentares brasileiras - uma salada farta de siglas, conexões improváveis, legendas de aluguel, e uma pitada muito pequena de ideologia. Dos 27 partidos que disputam as eleições para a Câmara, apenas 4 (PSTU, PCO, PSOL e PCB) são seletivos.

De acordo com dados levantados pelo Estadão, de todas as unidades federativas onde o Ibope faz seu ranking para a Câmara, SP é onde menos eleitores são capazes de citar um candidato a deputado federal: apenas 12%. Em PE chega a 19%, o que preocupa. Não é de espantar, portanto, que alguém tenha pensado em usar um palhaço como puxador de votos.

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