sábado, 28 de fevereiro de 2009

Cartão-Postal nº 2: Há 9 anos, um rato por dia

Fotos: Marcelo De Marco

A Companhia Pernambucana de Saneamento – Compesa foi ágil ao consertar o que quebrou. Hoje, foi possível ver homens trabalhando no reparo asfáltico da Rua Rui Barbosa, no Centro. Contudo, é de se questionar – em visita a bairros periféricos de Vitória de Santo Antão – a dicotomia de tratamento e o porquê da total inobservância ao direito primário que garante saneamento básico a todos os cidadãos.

Na tentativa de interligar o esgoto à rede coletora da Compesa, as “empresas de elevação” destruíram as ruas, interditaram e trouxeram o transtorno. Fizeram um serviço mal feito, sujo e que deixou como herança criações inteiras de mosquitos, ratos e baratas: transmissores potenciais de doenças que passeiam nas portas das casas pelos esgotos a céu aberto.

Vale dizer que os males relacionados à precariedade do saneamento básico são muitos. Eles podem ser transmitidos por meio de fezes (diarréia e hepatite A), por meio de inseto vetor (malária e dengue), por meio do contado com a água (leptospirose) e podem estar relacionados à higiene (micoses).

É preciso – então, sensibilizar a classe dirigente e incutir nas pessoas que o saneamento básico não se trata apenas de saúde pública. O não abastecimento de água potável, a falta de esgotamento sanitário e a ausência de uma coleta de lixo sistemática configuram-se como injustiça social. Possuir esgoto tratado é, portanto, uma questão de inclusão.

Mas, já não há dúvida de que a mera desobstrução de bueiros e as ações subterrâneas – que visam resolver saneamentos inadequados – são obras, que embora estruturantes, mantêm-se fora da agenda e à margem do organograma das políticas públicas – de um modo geral – por oferecerem pouca visibilidade a governantes, em grande parte, descomprometidos com o bem-estar dos cidadãos.

Teresa Cristina Tavares, 41, moradora da Rua Paraguassu, no Alto José Leal, queixa-se, diuturnamente, do mau cheiro e das muriçocas. Segundo ela, é preciso colocar 2 litros de detergente na calçada – toda semana – para amenizar os efeitos provocados pelo esgoto estourado. Mãe de 5 filhos, a dona de casa disparou: “Não conseguimos nem respirar, na nossa própria casa”.

Para Givaldo Galindo, 38, pedreiro, residente do bairro há 15 anos, o que mais o incomoda é o tratamento desigual dado. “Eles (Compesa) sabem o que os moradores aqui estão sofrendo. Há mais de 10 anos que se reclama, e nada de tomarem providência. Agora, se atrasarmos o pagamento, cortam o fornecimento de água e ainda colocam o nome da gente no SPC”.

A situação de Gleice Rosário de Oliveira, 21, moradora do cruzamento da Rua São Francisco de Assis com a Rua Cirilo Pereira da Silva parece ter consequências mais graves. Os apelos constantes junto à concessionária de abastecimento não foram suficientes para evitar que todos da sua casa fossem picados pelo aedes aegypti e que seu filho, de 2 anos, apresentasse quadro de infecção na pele. “Desde que mexeram nisso aqui (em 2001), meu senhor, se mata um rato por dia”. Concluiu em tom de desabafo.

Carnaval das Alegorias 5: Lenine leva o público ao delírio (Melhores Momentos)


Portal Oficial do Carnaval da Vitória

As fantasias individuais, as agremiações, os bois, os caboclinhos, as caluas, os ursos e a alegria das troças carnavalescas foram também alguns dos folguedos que não escaparam aos cliques atentos de nossas câmeras. Confira no slide acima!

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A parte boa do Carnaval da Bahia! E põe BOOOOOOOA nisso!

Foto: Antônio Reis/Especial para Terra

Frevo, Maracatu e Coco são expressões irrefutáveis que representam com grandeza a sofisticação de nossa Cultura. Também acho que o Carlinhos Brown fala pouca coisa que se aproveita. Mas num ponto concordo com ele: O melhor carnaval é, sem dúvida, o do Brasil.

Por isso, quero elogiar o desempenho, reverenciar a performance... de Ivete SangaloRainha do Carnaval Soteropolitano, que agarrada a um microfone folheado a ouro cantou, dançou e interpretou o hit Cadê Dalila?”, mostrando a todos, de verdade, o que a baiana tem.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Carnaval das Alegorias 4: As pessoas, o cartão-postal da cidade (Melhores Momentos)


Portal Oficial do Carnaval da Vitória

O percurso de aproximadamente 5 Km não foi suficiente para comportar a alegria dos clarins, o movimento dos porta-estandartes e abre-alas que tiveram a incumbência de apresentar às novas gerações o genuíno carnaval pernambucano e de fazer da tradicional festa momesca em Vitória de Santo Antão - PE, um evento inesquecível. Maciel Melo aglutinando o Forró ao Frevo no Bloco Marias e Lampiões. Confira no slide acima!

Não escondo: minha tara – de fato – sempre foram as gordinhas (adoro um colesterol!)

Capa da LOVE

A revista LOVE – lançamento editorial que chegou, este mês, às bancas da Grã-Bretanha – estampa na capa a cantora feminista, e famosa pelo seu temperamento carregado, Beth Ditto, vocalista da banda The Gossip.

A despeito da pouca originalidade conceitual, a revista especializada em música, ao escolher Ditto para a sua estréia, renova as discussões sobre nossos ideais de beleza.

Particularmente, não escondo de ninguém minha predileção pelas rechonchudas – com cérebro malhado e bem cuidadas, é claro! Nelas há um quê que não se explica, e que entorna o caldo.

Por isso, acho uma delícia as cheinhas com o seu sexy appeal e considero perda de tempo a discussão inútil e boba de que o padrão do belo é o comedimento.

Não concordo!

Portanto, confesso: adoro aquela maciez das coxas, venero aquele calor que vem do abraço e endoideço atracado num amor que tenha muita gordura pra queimar.

Refestelo-me e, como mosca de padaria, feito um pinto no lixo, faço a festa num bom e irrecusável colesterol HDL!

Carnaval das Alegorias 3: Maracatus, Frevo & o Bloco da Saudade (Melhores Momentos)


Portal Oficial do Carnaval da Vitória

Há 3 séculos, sim - acredite! - o Carnaval da Vitória apresenta-se como uma das mais bonitas festas populares. Ostentando durante décadas o título de "melhor carnaval do interior de Pernambuco", possui hoje o único clube carnavalesco de fados do Brasil e o título de Terra dos Carros Alegóricos. Confira, no slide acima, fotos do Carnaval das Tabocas.

Calypso, Saia Rodada e Toni Garrido no Galo

Foto: Marcelo/FUNDARPE

Pois é. Estas foram uma das controvertidas atrações do Galo que geraram protestos. Totalmente desconectadas com as tradições de Pernambuco, é bem possível que a banda paraense, por exemplo, tenha feito o carnavalesco Enéas Freire – fundador do maior bloco do mundo – revirar-se no túmulo.

Joelma – vocalista da Calypso –, no entanto, até que se esforçou ao cantar algumas de suas músicas em ritmo de frevo, além de ter apresentado alguns frevos autênticos no repertório especialmente para cantar no Galo. Toni Garrido fez jus ao cachê ao adequar seu repertório ao ritmo pernambucano. Já Saia Roda com o seu "cuelhinho"..., é melhor deixar pra lá!

Ainda sobre Calypso: Ariano Suassuna – inteligente e bem-humorado, como sempre – chegou, certa vez, a se referir à cantora Joelma, como "aquela moça que canta com o cabelo". No entanto, para surpresa do criador de O Auto da Compadecida, a loira manteve-se com os cabelos amarrados.

Depois dessa, só o improviso ácido do poeta recifense, ambientado na caatinga do Sertão do Pajeú, Jorge Filó para contentar:

Lascaram o mestre Enéas
Que do Frevo era irmão
Depenaram o pobre Galo
Na maior depravação
Calypso e Saia Rodada
Quem engole essa parada
Mais parece gozação.

É a banalização
Numa ofensa sem igual
Agora só ta faltando
Para esculhambar geral
Vir um Fank carioca
Tocando na frevioca
Pra f... o carnaval.

É muita cara-de-pau
De quem tem haver com isso
Um desrespeito com o Galo
De gente sem compromisso
Cegaram em meu carnaval
Trazendo esse lamaçal
Saia Rodada e Calypso.

Isso é pra quem tem viço
Pela porta do cedém
Vou mandar tomar no angu
Quem azedou meu xerém
Finalizo sem regalo
A bênção finado Galo
Renasça o ano que vem!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Carnaval das Alegorias 2: Jorge Aragão & Antônio Carlos Nóbrega (Melhores Momentos)


Fotos: Marcelo De Marco &

Portal Oficial do Carnaval da Vitória


A Pitombeira dos Quatro Cantos (Olinda), O Maracatu Leãozinho de Aliança, o Boi Malabá, o Maracatu Nação Porto Rico foram algumas das atrações que, aliadas ao frevo de troças carnavalescas como As Caluas, Os Depravados, Madeirinha, Boi Mosteiro, o bloco A Melhor Idade na Folia e o Clube dos 30 fizeram a festa do CARNAVAL DAS ALEGORIAS. Destaque também para o samba de Jorge Aragão e para o pernambucaníssimo e performático Antônio Carlos da Nóbrega. Confira os melhores momentos (Parte 2) no slide acima!


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Aula de Latim com suíços: “mea culpa”, a imprensa, o “modis operandis” “et coetera”

Foto: Reuters

Primeiramente, quero dizer que a culpa é do Noblat. Isso mesmo, Ricardo Noblat foi quem plantou essa notícia de ataque xenófobo à brasileira na Suíça depois de receber, pelo palm, mensagem de texto do advogado Paulo Oliveira – pai da pernambucana Paula Ventura Oliveira.

Bem..., aí apenas reproduzi. Mas não tenho culpa de nada não. Nem jornalista sou. E minha mulher é testemunha de que tentei entrar em contato com a família dela – a família de Paula, é claro (objetivamente, com o pai – assessor parlamentar de Roberto Magalhães) e com as autoridades suíças para checar as versões, sem sucesso – perguntem a ela (mentira da p...!).

Também, aqui pra nós, quem teria alguma razão para duvidar da versão da moça? Menina bem nascida, como diria a minha avó – bem criada e, embora tímida – articulada, sem antecedentes comprometedores, com vínculo em multinacional que lhe garantia excelente salário..., etc., etc., etc.

Portanto, venho aqui, reconhecer – claro – que fui precipitado (e quem nunca foi?), ao mesmo tempo em que peço desculpas aos “tadinhos” dos skinheads – criaturas tão doces e que nunca na história do mundo esboçaram qualquer atitude antissemita, racista que justificasse pensar em uma política de extermínio de povos não-arianos.

Quero lamentar – de verdade – pela calúnia e difamação levantadas e por acreditar numa tese inverossímil. Por isso, retrato-me desde já – reconhecendo que faço parte de uma civilização atrasada, culturalmente jesuítica, alienada, tupiniquim, tupinambá.

Sei, agora – mais do que nunca, que jamais um grupo tão pacífico, ordeiro e liberal – calcado nos exemplos do bom Hitler, só por capricho ou apenas porque defende uma supremacia racial branca, teria a audácia de violentar alguém de tão exótica etnia ou apenas pela tez miscigenada.

Mil perdões aos cidadãos e ao establishment suíços, pelo incidente diplomático; mil desculpas aos skinheads, pelo embaraço e por aceitarmos que uma menina de 26 anos se automutile só para chamar a atenção, só para cometer a sandice de expor – propositadamente – a IMPRENSA e o seu modis operandis.

Portanto, Heil Hitler!

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Monges, noviças, muito uisque, chuva e folia!

Apesar das fortes chuvas, "autoridades clericais", associados, fãs e simpatizantes da Troça Carnavalesca Monges em Folia ascenderam ainda mais a chama do CARNAVAL DAS ALEGORIAS, na madrugada de sábado para domingo (21-22/FEV) em Vitória de Santo Antão/PE.

Compuseram - ainda - o cenário: freiras, noviças e personagens do folclore nacional ao som da Orquestra Avalovara, que juntos deram uma mostra da pluralidade cultural que todos os anos faz a alegria da festa de Momo na Terra das Tabocas. Confira, no slide abaixo, a alegria dos monges recém-saídos do "claustro" dos mosteiros!


Fotos: Marcelo De Marco

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Deficiente físico passa por constrangimento em agência do Banco do Brasil, em Vitória


Fotos: Marcelo De Marco

Este não é Stephen Hawking – matemático e físico – portador de esclerose lateral amiotrófica: doença neuromotora grave que ataca os nervos e dificulta o controle dos movimentos voluntários do corpo. Este também não é Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho – escultor barroco – com sérias limitações físicas provocadas pela tromboangeíte obliterante, mal que, aos poucos, o fez perder os membros superiores e inferiores. Este, na verdade, é RINALDO ADRIANO MACENA DE ALMEIDA, 35 anos – o NENÉM DA CADEIRA DE RODAS. Morador do Beco do Borges, em Vitória.

Certamente, ele não é alguém que tenha amealhado fama, descoberto a cura para a AIDS, tampouco inventado a roda. Mas ainda que tivesse curado aidéticos e sido o precursor da maior invenção do mundo, em Vitória de Santo Antão (TERRA DE CHICO CITY), continuaria a ver navios, continuaria a ser um sujeito à margem e a contemplar regras sendo quebradas, leis sendo desobedecidas: inversões de valores à luz do dia, na maior caradura – mantendo sempre no rosto uma expressão neutra, impassível – como se a violação ao direito devesse ser fato assimilado com naturalidade.

Office boy há 10 anos, Rinaldo, ou melhor – Neném – é um sujeito pacato e que goza de relativa notoriedade na Terra de Mariana Amália. Tranquilo, não está nem aí para eufemismos que tentem maquilar suas limitações físicas. Para ele, definições criadas para esvaziar a suposta negatividade do termo "deficiente físico", como a expressão politicamente correta "portador de necessidades especiais" não o abalam, mesmo que de maneira dissimulada denunciem o quanto nossa sociedade é hipócrita ao omisiar seus preconceitos.

Todavia, o que causa insatisfação mesmo, não apenas ao cadeirante, mas a qualquer indivíduo minimamente esclarecido, é o apartheid social escancarado e o modo como nossa sociedade abarrotou-se de pessoas portadoras do vírus do despreparo – terrível e desconfortável endemia. Somos uma sociedade deficiente culturalmente –, somos um povo mesquinho, mal educado, que não respeita o direito alheio e que é implacável ao infringir o conceito de cidadania. Padecemos, portanto, de falência intelectual.

Para se ter melhor compreensão, sobre tamanha desfaçatez, é preciso conhecer a história de Rinaldo. Cinco vezes ao mês ele se desloca da galeria – onde presta seus serviços – até a agência do Banco do Brasil. Lá, passa pelo habitual constrangimento de ter que descer de sua cadeira, passando pela porta giratória, rastejando-se até um dos guichês, a fim de ser atendido. Segundo ele, esta recepção é fruto de decisão gerencial que recomendou à vigilância a não abertura da porta lateral. A resposta dos guardas, quando questionados sobre o fato, é sempre a mesma há dez anos: norma do banco! Acrescentou Neném, flagrado pela indignação dos que presenciaram tal cena se repetir hoje (19, FEV).

Desde 2001 existe legislação (resolução 2878 de 26/07/2001) determinando que instituições financeiras disponibilizem em suas dependências alternativas técnicas, físicas ou especiais que garantam – além de atendimento prioritário – facilidade de acesso, acessibilidade a mesas e terminais de autoatendimento, bem como facilidade de circulação, para as pessoas com mobilidade física reduzida. No entanto, o que vemos é o atropelamento velado ao direito total e irrestrito do ir e vir dos cadeirantes.

O que mais deprime é o fato de sabermos que a agência de Vitória (0233-x) possui rampa de acesso e entrada especial – podendo poupar pessoas como Rinaldo de tamanha sujeição. Para se ter ideia, o BB estabeleceu um novo RECORDE, em 2008, com um LUCRO de R$ 8,8 bilhões. Mas lamentavelmente, os investimentos em tecnologias, os pisos táteis para deficientes visuais, os caixas eletrônicos e os banheiros adaptados para esse tipo de público ainda não chegaram às unidades bancárias mais periféricas como deveriam.

Agora, todo este descaso não tem a menor importância quando comparado aos profissionais "responsáveis" pelo gerenciamento e pela administração dessas agências. Porque aí claramente se trata, em sua maioria, de pessoas insensíveis e portadoras de "deficiências educacionais especiais progressivas", pois desconhecem os verbetes SOCIAL, INCLUSÃO, RELAÇÃO, HUMANO. E achando pouco ainda fixam um cartaz cínico e amarelo na entrada, onde se lê: CONTE COM O BANCO QUE É TODO SEU.

Inicialmente, ante o paradoxo, até que julguei ingênua a mera peça publicitária disposta na parede. Mas depois conclui que não: É DEBOCHE MESMO!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Carnaval das Alegorias 1: As Virgens e o Baile Municipal (Melhores Momentos)

Confira aqui imagens (Parte I) do Carnaval da Vitória de Santo Antão: As virgens, Os Barriga D`Água, Encontro de Estandartes, Corso e Baile Municipal são algumas das atrações.


Fotos: Marcelo De Marco &
Portal Oficial do Carnaval da Vitória


domingo, 15 de fevereiro de 2009

É carnaval!

Foto: Portal Oficial do Carnaval/Divulgação

Se viva estivesse, Carmem Miranda teria completado, no último dia nove, 100 anos. Sua marca registrada era o colorido e a alegria, que combinados ajudaram a divulgar o Brasil. Alimentados por esse ideário, foliões – travestidos a caráter – deram início à festa de Momo em Vitória de Santo Antão, evento eclético que congrega diferentes estilos e oferece atrações que vão desde o Maracatu de baque solto, blocos líricos e muito frevo com concurso de fantasias, passando pela irreverência de As Virgens, até aos ritmos alternativos como o hip hop, a música eletrônica, o axé e o gospel.

Aquele que é considerado o Carnaval das Alegorias e maior festa popular da Terra das Tabocas teve sua abertura oficial na sexta-feira 13, com o Corso - saindo da Rua Imperial e com o Baile Municipal no Pólo Estação. A edição deste ano homenageia ZECA DE ABELARDO – compositor e intérprete de canções celebradas nos principais clubes e agremiações carnavalescas da cidade. O evento também faz menção a nomes históricos do carnaval vitoriense: Sitonho, Mizura, Geraldo Lima e José Marques de Sena dão nome aos 4 pólos de animação espalhados pela cidade.

Em comunicação, por e-mail, a Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo – através de Lissandro Nascimento – informou a programação do Carnaval da Vitória. As apostas em nomes consagrados como o de Jorge Aragão, Antônio Carlos Nóbrega e Lenine (a se apresentar no domingo – 22, segunda – 23 e terça-feira – 24 de carnaval, respectivamente) serve de alento a gostos mais sofisticados, há muito tempo insatisfeitos em assistir à mesmice de uma festa que não vinha oportunizando ao folião revisitar temáticas inspiradas na cultura de antigos carnavais.

É importante destacar o papel do Governo do Estado – por intermédio da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), que ampliou os investimentos destinados à realização do carnaval no Estado, e consequentemente em Vitória de Santo Antão. O montante chega a R$ 8 milhões, 20% a mais que o investido no ano passado. O maior e melhor carnaval da Terra da Pitú ainda terá as participações de Almir Guineto, Nildo Ventura, Orquestra 100% Mulher Frevo (frevo, ciranda e coco), Grupo Pandeiro do Mestre (coco urbano), Rui Ribeiro (samba), Trio Pouca Chinfra e a Cozinha, além de personagens tradicionais do carnaval local.

Clique aqui e confira na íntegra a programação do Carnaval da Vitória – O Carnaval das Alegorias!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Robinho, O estuprador

Foto: Sean Dempsey/AP


Kanavillil Rajagopalan – professor de Semântica e Pragmática da Unicamp, costuma dizer que 'designar' e 'caracterizar' são ações indissociáveis, uma vez que a gramática tradicional prega a necessidade de identificar primeiro o sujeito da frase para em seguida predicá-lo. RAJA, como é mais popularmente chamado no meio acadêmico, serve-se, enfim, de exemplo trazido da sintaxe, para apoiar o seu argumento, constituído em amostras por vezes metonímicas, para afirmar ser preciso, primeiro, nomear, para então dizer algo a respeito do objeto no mundo assim designado.


Apoiando-me nos argumentos do indiano, em minhas peripécias – neste campo de estudo da linguagem – busquei lançar um olhar crítico sobre os processos de nomeação impressos pela mídia, refletindo a respeito do discurso jornalístico que, carregado de ideologias discutíveis, tomam partido ao dar uma notícia, caminhando, portanto, na contramão do direito lingüístico e dos princípios éticos que nada têm a ver com generalizações, ideias estereotipadas e tendenciosas.


Medito, então, sobre a necessidade de uma mídia isenta e mais responsável, procurando – no entanto – o nascedouro desse caos da comunicação e da linguagem.


De acordo com o linguista e ativista norte-americano Noam Chomsky, a escola deve começar a oferecer o exemplo para que o eco de sua voz provoque a reflexão e o exercício da ética. Transformar atitudes e burilar condutas não é tarefa fácil e que se proceda em um estalar de dedos, também não deve ser feito de maneira unilateral, porque ensinar exige, segundo Paulo Freire – em sua Pedagogia da Autonomia, disponibilidade para o diálogo. Para ele, o indivíduo que se abre para o mundo e aos outros introduz com seu gesto uma relação dialógica, relação essa, infelizmente, cada vez mais apagada em nossas carteiras escolares.


Por esta razão, é que temos redações abarrotadas de prostitutos da comunicação midiática. A política e o esporte são terrenos férteis que abrigam "profissionais" da linguagem sempre a serviço de interesses pouco republicanos. Chamam Ronaldo Fenômeno – quando sabemos que ele não é tão fenômeno assim. Barack Obama agora personificou-se em messias no dizer da imprensa global. Osama Bin Laden era, a pouco tempo, para nós ocidentais, sinônimo de terror, enquanto para milhares de mulçumanos ele representa Alá com seu poder e justiça.


O texto jornalístico – em grande parte – parece mais uma peça de folclore; deixou, portanto, de assumir as suas reais prerrogativas. No entanto, embalado nesse espírito, para não destoar, até que considero fascinante – para não dizer tentadora – essa possibilidade da escrita, desde que utilizada criativamente e para fins que se distancie da predatória lógica jornalística que tem a comunicação como instrumento para formar opiniões equivocadas e influenciar dolosamente cabeças vazias.


E já que não falei em samba, devo ao menos – ao assumir o compromisso de incorporar designações ao texto – de concluí-lo falando em futebol para dizer que, GarrinchaO anjo das pernas tortas; Nilton SantosA enciclopédia; o Rei Pelé; JairzinhoO furacão; Ademir da GuiaO divino; RivelinoPatada atômica; ZicoGalinho de Quintino; Roberto Dinamite; Dadá Maravilha, EdmundoO animal; RomárioO gênio da pequena área, entre tantos outros belos jogadores, poderiam formar um time imbatível, seja pela sofisticação e técnica, seja pela alegria e futebol mitológico que convenceram milhares a amar esse esporte.


Mas os tempos são outros, e não há dúvida de que ao lado de Adriano, Kaká e Ronaldinho Gaúcho a bola da vez é Robinho – O estuprador. E nem pensem que aqui é uma alusão maldosa ao escândalo recente com a jovem inglesa em boate de Leeds. Refiro-me mesmo é ao menino da Vila, sacudindo o esqueleto, defenestrando a defesa itálica, chamando Pirlo e Zambrotta para dançar, desvirginando espaços, levando ao êxtase, encaçapando, entrando com bola e tudo.


Marcas da intolerância

Fotos: Blog do Noblat

É um absurdo supor que países desenvolvidos ainda acomodem práticas tão primitivas: indivíduos de índoles tão desnecessariamente esquipáticas. Mesmo assim, pessoas de bem passam – todos os dias – pelo constrangimento de terem seus direitos violados. Mais que isso – terem sua vida, sua dignidade violentadas. O que um bando de skinheads fizeram à Paula Oliveira, na Suiça, enoja. Ela sofreu mais de 100 ferimentos e teve siglas marcadas no corpo.


Grávida de gêmeos, a advogada pernambucana de 26 anos, foi – segundo agências de notícias e o jornalista Ricardo Noblat – retalhada, agredida, vilipendiada... por três homens brancos, de cabelos raspados, na saída de um trem em Dubendorf, cidade próxima a Zurique. A violência da agressão – que a fez abortar os bebês, não deixará apenas inscrições xenófobas pelo corpo, manterá também, por longo tempo, ferida psicológica de difícil cicatrização.


Noiva de um suíço e empregada em uma empresa dinamarquesa de contêiners, Paula desejava – entre outras coisas – a paz urbana que não encontrava no Brasil. Aqui, ateia-se fogo em índio; em fuga, arrasta-se crianças inocentes; metralha-se automóveis, dizimando lares. E o pior: já não é mais absurda a ideia de que o crime é coisa normal. E acostumados à rotina do delito, internalizamo-la como natural em nossas consciências.

A multiplicação de obras criminosas, somada à impunidade operada pelos agentes públicos parecem se disseminar pelo mundo afora, fazendo crer que não é mais possível a construção do diálogo e de uma convivência em que as diferenças se respeitem. Entretanto, não podemos esmorecer diante de atitudes tão selvagens e preconceituosas, a fim de mantermos inabalável a esperança de que um mundo melhor é possível.

PS.: Scheiz Volks Partei (SVP) é o maior partido político da Suiça, também conhecido como União Democrática de Centro. É o que governa o país.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Governador reinaugura escola: professores com a faca e o queijo na mão. Só falta a fome!

Fotos: Marcelo De Marco

Acabo de chegar da Escola José Joaquim da Silva Filho. Mais conhecida como Polivalente. Lá, na reinauguração, encontrei gente dos mais diversos matizes políticos de nossa cidade. O Secretário de Educação Danilo Cabral deu as boas vindas, reafirmando o compromisso com a melhoria da Educação do Estado. Ante o júbilo, o governador Eduardo Campos fazia graça ao comentar o instante sui generis em que gregos e troianos (leia-se, forças políticas divergentes) – por uma mesma causa – uniam-se para compartilhar o mesmo pão.

A escola, realmente, está um brinco. Espaço para leitura, laboratórios, cantina, auditórios e tudo mais que toda escola – especialmente, a pública – deveria ter. E o Polivalente tem. Dispõe de mobília e instrumentos para estrear o período letivo propiciando o melhor a alunos e professores. É agora, com todas as letras, uma escola de R-E-F-E-R-Ê-N-C-I-A. Não se deve deixar de anotar que tudo isso ocorreu, graças também à luta incessante de sua gestora, professora Vera Marinho – que é dessas mulheres raras..., virada no saco-de-gato!

No entanto, uma coisa me preocupa. É que, apesar de professores e alunos estarem com a faca e o queijo na mão, eles precisam agora do mais importante: precisam de fome! Sem fome, de nada adianta se ter à mesa a melhor comida. É preciso amar o que se faz, ter tesão e ficar-se excitado. É crucial gostar de pessoas – admirando-as com as suas diferenças, hábitos, vícios. É necessário estar-se faminto para aproveitar, inclusive, as sobras do bolo, as – aparentemente, descartáveis – migalhas.

No livro O desejo de ensinar e a arte de aprender, Rubem Alves elogia a capacidade pedagógica de Adélia Prado ao dizer: "Não quero faca nem queijo; quero é fome". Ele próprio, então, endossa: “o comer não começa com o queijo. O comer começa na fome de comer queijo. Se não tenho fome é inútil ter queijo. Mas se tenho fome de queijo e não tenho queijo, eu dou um jeito de arranjar um queijo.”

Lembro-me de ouvir o professor José Edson pelos corredores distribuindo sermões. Eu era pequeno. Devia ter 11, 12, 13 anos. O brado de sua voz ainda, vez ou outra, me ocorre: era feito de ferro bruto, era duro como uma rocha. Estridente! A professora Fátima Costa nunca deixava por menos e com ênclise impecável também dava suas estocadas: – Menino, comporte-se! Quem já se viu coisa assim?! Hummmm!

Os puristas de hoje diriam: Ô pedagogiazinha censurável!

Eu não. Eu digo que esses inesquecíveis mestres provocaram em mim a fome, abriram-me o apetite. Transferiram-me o legado da comilança por conhecimento. Despertaram-me o desejo em ser alguém capaz de fazer a minha própria comida. Eles não arrumavam paliativo para despejar informação, buscavam sim, a cura para mentes anoréxicas, prescreviam despertadores para cérebros adormecidos: propunham o prazer como maior e melhor tecnologia para se alcançar o conhecimento.

Portanto, é só o vírus do funcionalismo público que me preocupa, é só a inércia que me desassossega e a constatação viva de que já, há algum tempo, não vejo alunos e professores sentindo fome, ou sequer tendo saudade de ouvir o bom barulho que, não em estômagos vazios, mas na vida de pessoas esta tal fome provoca.

Veja as fotos!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Cartão-Postal nº 1 - Drummond e o poste!

Foto: Marcelo De Marco

Drummond é daqueles poetas de cabeceira, de poesia aguda, cuja contemplação fabrica retinas de insônia. No entanto, por não ser eu de ferro, vez ou outra adormeço, cochilo nas curvas de seu texto, descarrilo e provoco acidentes. Aí, junto os pedaços, livro o flagrante e cometo o crime de começar tudo de novo.

É tão boa a sensação que provoca a releitura. É como se dissesse: – Acorda rapaz! Recomeça! E nos pomos a esgotar o inesgotável. Leitor passa a ser autor, transforma-se poeta. Adota o alheio sem pedir licença. Aquelas palavras agora também são suas.

E é o máximo!

Quase sempre leio Infância, revisito sem cerimônias; e mal acostumado, tomo o café preto da preta velha, café gostoso, café bom. O cheiro de torrado é sinestésico. Aproveito então para matar a saudade de minha avó à beira do fogão à lenha – uma maestrina regendo o seu tacho.

Poesia é isso!

O mineiro de Itabira também era homem de sete faces, de piadas, sujeito zombeteiro, gozador. Sua poética gauche inspira e nos comove como o diabo! Outro dia, vi uma cena – que só a minha cidade permite apreciar – e lembrei-me da bendita pedra de Drummond. Parafraseei, então:

No meio da Travessa 1º de Maio

No meio da Travessa 1º de Maio tem um poste
tem um poste no meio da Travessa 1º de Maio
tem um poste
no meio da Travessa 1º de Maio tem um poste

Farei tudo para esquecer esse acontecimento
inclusive, não contar mais piada de português.
Tudo para esquecer que no meio da Travessa 1º de Maio
tem um poste
tem um poste no meio da Travessa 1º de Maio
no meio da Travessa 1º de Maio tem um poste.

Serviço de utilidade pública: o poste está plantado na Travessa 1º de Maio, Alto José Leal, Vitória de Santo Antão. Venham e comprovem!